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Estado esconde em boletim escolar falta de professores

Documentos oficiais da Secretaria de Educação diminuem o currículo mínimo exigido e omitem as disciplinas em que alunos permanecem sem aulas.

Secretaria Estadual de Educação faz ‘maquiagem’ e omite no boletim de alunos disciplinas que não têm professor. Documento incompleto impede alunos de ingressar na rede particular.

Carol Medeiros e Maria Luisa Barros – O Dia

Rio - Depois de conviver durante 108 dias com os inúmeros transtornos causados pela falta de professores em sala de aula, pais e alunos da rede estadual encontraram novo obstáculo ao receber o boletim do primeiro bimestre. O documento que traz o histórico escolar do aluno omite as disciplinas que não foram dadas este ano. Segundo fontes ligadas à Secretaria Estadual de Educação, o formato incompleto do boletim é orientação das Coordenadorias Regionais às diretorias de escolas. O subsecretrário Godofredo de Oliveira Neto afirmou que, se a disciplina não foi aplicada, não há como lançar conceito nem nota. Mas garantiu que a situação será regularizada e as aulas, repostas.

A medida pode afetar ainda mais os alunos que, prejudicados pela carência de professor, tentam vaga em outras escolas. Na rede privada, o documento, considerado irregular, não será aceito para transferência. A informação é do presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Rio (Sinepe). Edgar Flexa Ribeiro afirma que colégios particulares só recebem alunos com histórico completo, disciplinas obrigatórias, carga horária e resultado das avaliações. “Se o documento não traz a avaliação de todas as disciplinas e a freqüência, não podemos aceitar”, diz.

NOVA POSTURA

Diferentemente do que foi adotado pelo estado em 2004, quando criou-se o conceito SP (sem professor), como O DIA revelou, a saída encontrada agora foi apagar do histórico do estudante a deficiência do governo em pôr professor em aula. A solução improvisada contraria a própria Resolução da Secretaria de Educação que fixa as matrizes curriculares da Educação Básica, entre elas o cumprimento do mínimo de 200 dias letivos. Em um dos boletins a que O DIA teve acesso, o Colégio Estadual Nova Campina, em Caxias, divulgou apenas as médias e freqüências das matérias que estavam sendo ensinadas. Aluna da 6ª série, Mayara Nogueira de Almeida, 11, só recebeu as notas de Ciências, Artes, Português e Matemática.

“Levei susto quando peguei os documentos. Como vão aceitar a menina com esse histórico? Ela devia ter 10 matérias. Não tinha aula, não fez prova e não tem nota”, lamenta a mãe, Maria Nogueira Dias, que estudava no Nova Campina. Aluna do 3º ano do Ensino Médio, conseguiu mudar de escola. Agora, tenta a transferência do filho Alexandre Nogueira, 18, do 2º ano.

DRAMA PARA MUDAR DE UNIDADE

No site da Secretaria de Educação, ainda não é possível visualizar os boletins deste ano. Em anos anteriores, as notas eram lançadas logo após os conselhos de classe, que acontecem no fim do bimestre.

A demora na liberação das notas foi outro motivo de dor-de-cabeça para a doméstica Maria. Desde que começou o ano, ela conta que não teve sossego. Cansou de esperar por professores que nunca chegavam ao Colégio Estadual Nova Campina, onde estava matriculada com os filhos, e começou a buscar vaga em outra unidade.

Depois de conseguir a sua e de Mayara para o Ciep 476 — Elias Lazaroni, ainda luta pela mudança de Alexandre. “Tá difícil porque não querem aceitar ninguém do Nova Campina. Estão pensando no que fazer com os que já foram pra lá. Pra minha filha, que está na 6ª série, é mais fácil: vão passar um trabalho pra dar nota e ir recuperando os assuntos que ela não viu. Mas a minha situação é mais complicada: eu vim do EJA, que é supletivo, e não temos tempo pra revisões”, diz.

A falta de mestres em Nova Iguaçu gerou ato de pais e alunos, que fecharam ontem a antiga Rio-São Paulo.

Retrocesso nas particulares

Crianças com baixa auto-estima, defasadas e sem motivação. De acordo com a psicopedagoga Tania Marcia Ferreira Nunes, que atende alunos de escola particular, tal quadro emocional é muito comum em transferidos de escolas públicas devido à falta de professores: “É muito grave, pois não conseguem acompanhar a turma. Desenvolvem sofrimento emocional e acabam perdendo o interesse, porque estão sempre atrás dos colegas”.

Segundo Tania, nas situações em que o estudante não tem conhecimento suficiente para ficar numa série compatível, ele precisará retroceder 1 ano ou mais para ficar no mesmo nível de aprendizagem do restante da turma.

Nesse caso, ficará a critério da família aceitar o retrocesso escolar ou seguir nas redes estadual ou municipal. “Quando a gente recebe alunos de escola pública, ele só ingressa na mesma série em que estava se estiver apto em todas as disciplinas, ou não conseguirá ser inserido na rede particular”, explica a psicopedagoga.

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