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O problema não acabou

Apesar da promessa de que nenhum aluno ficaria sem aula a partir de ontem, muitos voltaram para a casa por falta de professores. Subsecretária diz que lei não fixa data de início do ano letivo

Jefferson Machado e Josie Jerônimo – O Dia

Rio - Arrumados caprichosamente pela mãe, Vinícius, 6 anos, e Thassia, 8, saíram de casa, ontem, ansiosos pelo primeiro dia de aula depois das férias forçadas pela falta de professores na rede estadual de ensino. A volta às aulas, no entanto, foi frustrada. Sem professores, os alunos da 1ª e 3ª séries do Ciep Máximo Gorki, no bairro Marapicu, em Nova Iguaçu, foram conduzidos até o pátio para preencher o tempo vago com atividades recreativas. A mãe das crianças, a cabeleireira Gilsa de Carvalho Santos Lopes, 48, disse que a escola não deu previsão para o início das aulas: “Espero que seja o mais rápido possível. A situação está insuportável. As crianças estão muito tempo paradas”.

AULA ATÉ 29 DE FEVEREIRO

Mas, segundo a subsecretária de Educação do estado, Lúcia Venina, o atraso não é um problema: “A Lei de Diretrizes e Bases diz que no calendário escolar tem que constar 200 dias letivos de aulas ou 800 horas/aula, mas, em nenhum momento, determina o dia de início das aulas”. Ainda de acordo com Lúcia, o calendário escolar pode se estender até 29 de fevereiro de 2008.

Alunos da 1ª a 4ª séries do Ciep Austregésilo de Athayde, no bairro Jardim Europa, também ficaram sem aula. O drama de Nova Iguaçu se repetiu em outras escolas, apesar das 1.250 contratações temporárias anunciadas pelo governo. A secretaria diz que hoje haverá professores para todos.

Em São Gonçalo, 60 alunos da 1ª série da Escola Trasilbo Filgueiras permanecem sem aulas. Segundo a direção, a escola aguarda que a coordenadoria de ensino envie professores. Só as três turmas de 2ª série deram início ontem ao ano letivo. Apenas uma professora contratada chegou à escola para começar na segunda quinzena de junho o programa previsto para fevereiro.

Com o reforço de 105 contratados, Niterói contornou parte do déficit de professores em 33 escolas que tinham alunos de 1ª a 4ª sem aulas. Quatro candidatos escolhidos começaram ontem no Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho. Mas faltam professores de Matemática e História para a 5ª e 8ª séries. Segundo a diretora-adjunta da escola, Diva Maria Teixeira, devido à pressa, muitos iniciantes foram chamados.

O baixo salário foi adversário das contratações. Os R$ 431 oferecidos para vaga temporária espantaram os mais experientes. A coordenadora de ensino de Niterói, Vera Lúcia Ferreira, contou que trabalhava com três argumentos para motivar profissionais.

“Oportunidade do primeiro emprego, com carteira assinada, e como forma de acumular pontos para prova de títulos para concurso público”, disse.

SEPE: TURMAS DIFÍCEIS PARA RECÉM-FORMADOS

A diretora do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe), Maria Beatriz Lugão, afirma que o baixo salário oferecido restringiu as contratações aos profissionais recém-formados e muitos professores experientes recusaram a vaga: “Quem tem mais experiência não se inscreveu”.

Um exemplo é a professora Iara de Souza Ferreira. Com 17 anos de magistério, ela rejeitou uma vaga para atuar em São Gonçalo. “Eu teria que pagar passagem, não teria vínculo empregatício e pegaria uma turma que está sem aula há quase seis meses”, observa.

Segundo a diretora do Sepe, alunos que ficam muito tempo sem aulas deveriam ser acompanhados por profissionais experientes: “É complicado para os recém-formados começar na carreira com turmas tão difíceis como as que estão voltando às aulas agora”.

Michelle Alvarenga, 22 anos, enfrentará o desafio. Lecionará no Instituto Clelia Nanci, São Gonçalo, escola em que já estudou.

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