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Medalhas para a bandalheira

Ricardo Nobre – Jornal de Brasília

Muito oportuno o artigo de domingo da nossa colunista de política Helena Chagas sobre o fracasso das agências reguladoras e da suspeita relação delas com as empresas as quais caberiam fiscalizar. Criadas durante o governo Fernando Henrique Cardoso, no rastro das privatizações, as agências têm como missão regular e acompanhar de perto o trabalho das empresas privatizadas, como as de telefonia. Com essas organizações livres das amarras do Estado falido, aptas a investir na modernização de seu respectivo setor, restaria às agências o papel de vigilantes da qualidade dos serviços oferecidos aos cidadãos pelas ex-estatais. Mas não é o que acontece. Pelo que vem ocorrendo no transporte aéreo nos últimos dez meses, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) é um exemplo da total falta de respeito dessas instituições para com os brasileiros. Mas ela não é a única.

Quem neste País que possui telefone celular não tem pelo menos uma história sobre o inferno que é tentar solucionar algum problema com alguma operadora, sem exceção? Outro dia vi de perto o desfecho do calvário de um proprietário de telefone. Eu e cerca de 20 pessoas aguardávamos ser atendidos, na agência central de uma telefônica, quando um cliente, com cara de bastante irritado, chegou e pediu uma senha. Assim que a atendente tentou explicar que o cancelamento de linhas só poderia ser feito por telefone, esse homem começou a berrar feito um louco, dizendo que já tentara fazer o cancelamento por diversas vezes, mas que as pessoas do outro lado da linha jogavam o caso para outro setor ou simplesmente inventavam uma desculpa para não atender o direito do infeliz. Como estamos cansados de saber, o caso desse cidadão se repete aos milhões País afora e não se tem notícias de que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) seja rigorosa na hora de punir tal descalabro. O sujeito do exemplo citado só conseguiu ter a linha cancelada porque, na minha opinião, os funcionários da operadora perceberam que ele simplesmente poderia destruir aquele escritório, tamanha a sua raiva.

Agora, com o caos no sistema aéreo e as tragédias que levaram centenas de vítimas inocentes, percebemos, estupefatos, que estamos nas mãos de agências excessivamente independentes, que mais servem para saciar o apetite fisiológico de políticos oportunistas do que defender o interesse de quem paga os caríssimos impostos. Para mim, o que retrata em toda sua plenitude essa bandalheira foi a cena lamentável registrada na última sexta-feira. Três dias depois da tragédia com o avião da TAM, em solenidade aqui em Brasília, a Força Aérea Brasileira agraciou, com medalhas de honra ao mérito, nada menos que o diretor-presidente da Anac, Milton Zuanazzi, e a diretora Denise Abreu. É demais. Acho que, no mínimo, faltou sensibilidade para manter agendada uma solenidade tão inoportuna, mesmo sendo em homenagem ao nascimento de Santos Dumont. Aliás, que desgosto deve estar sentindo o nosso Pai da Aviação.

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