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Silêncio no governo Lula

Em nota divulgada pela assessoria de imprensa do Itamaraty, Celso Amorim afirma que não tem comentários a fazer sobre a existência do Ciex e é criticado por ativistas

Claudio Dantas Sequeira
Da equipe do Correio Braziliense

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, optou pelo silêncio diante das evidências de que a diplomacia cooperou com a repressão política por meio de um serviço secreto entre 1966 e 1985. Em nota ao Correio, a assessoria de imprensa do Itamaraty informou que “não tem comentários a fazer sobre aspectos de um passado que felizmente deixou de existir”. Ao não comentar a existência do arquivo secreto do Centro de Informações do Exterior (Ciex), revelada pela reportagem, Amorim repete a postura adotada pelas administrações anteriores. Vítimas da ditadura, familiares e movimentos de defesa dos direitos humanos lamentaram a atitude do chanceler, que, em 1982, foi afastado da direção da Embrafilme por ter autorizado o financiamento do filme Pra Frente Brasil, libelo contra a ditadura.

“Ao contrário do que Amorim pensa, esse passado ainda está muito presente”, contesta Jair Krische, presidente do Movimento Justiça e Direitos Humanos (MJDH). Estudioso da cooperação entre os regimes militares do Cone Sul para o combate ao comunismo, Krische diz que o governo brasileiro está na contramão da História.

“Países como Argentina e Chile, que tiveram ditaduras muito mais sangrentas, abriram seus arquivos. Aqui, nos sonegam informações do período, famílias de vítimas permanecem sem poder recorrer à anistia, pois não sabem o paradeiro de seus parentes”, emendou.

Em nota oficial, o presidente do PPS, Roberto Freire, exigiu a abertura total dos arquivos do período da ditadura militar no país, tornando públicos tanto os relatórios confeccionados por órgãos das Forças Armadas, como os arquivos de setores civis. “É preciso que o governo Lula tenha coragem, o que até agora mostrou que não tem, e abra todos os arquivos.

Infelizmente só ficamos sabendo de detalhes da atuação do governo militar nesse período por meio de reportagens investigativas. Lula pensa que tratar desse período é apenas conceder pensões para os perseguidos pela ditadura, muitos até próximos dele”, disse.

José Maria Rabelo, integrante do Diretório Nacional do PDT e um dos perseguidos do Ciex, se surpreendeu com a revelação da existência do serviço secreto do Itamaraty. “Achei que a colaboração de alguns diplomatas com o regime militar fosse algo pontual, nunca imaginei que houvesse um órgão dedicado à perseguição dos asilados”, afirmou. Rabelo, por sua amizade com Leonel Brizola, foi monitorado por anos a fio. Seu nome é citado em mais de 20 informes. “A descoberta desse arquivo demonstra que as autoridades mentem ao dizer que foi tudo destruído.”

Sobre a revelação de que o embaixador Pio Corrêa foi o “pai do Ciex”, o historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira lembrou que esteve no exílio no Uruguai na mesma época em que Corrêa foi embaixador. “Ele perseguiu os asilados em Montevidéu e pretendeu que o Brasil invadisse o Uruguai em 1965”, ressaltou. Para Moniz, o fato de Pio Corrêa ter criado o serviço secreto se encaixa com revelação feita pelo americano Philip Agee, agente da CIA em Montevidéu no mesmo período. “Em seu livro de memórias, Dentro da Companhia, ele diz que Pio Corrêa era agente da CIA”, observou. Segundo o especialista, “quando houve o golpe de 1964, ele vestiu uma velha farda de oficial da reserva que tinha em casa e foi para o Itamaraty”.

SEGREDOS DA DITADURA

Série de reportagens do Correio, publicadas desde o último domingo, revela como os diplomatas brasileiros perseguiram opositores da ditadura por meio de um poderoso sistema de inteligência, criado e operado pela cúpula do Ministério das Relações Exteriores.

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