Durante 36 minutos, ao falar em sua defesa, senador mandou recados para os opositores e discursou em tom emotivo
No fim, em tom alterado, Renan acusou Heloisa Helena de sonegação; ex-senadora, que estava no fundo do plenário, rebateu
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA – FOLHA DE SÃO PAULO
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) fez um discurso de 36 minutos em sua defesa, em que abusou da emoção e da condição de vítima, mas também encontrou tempo para ameaçar, mandar recados e ir para cima de adversários.
A Folha acompanhou parte da fala por meio do telefone celular de um dos presentes à sessão de ontem.
A ex-senadora Heloisa Helena (AL), presidente do PSOL e alçada à condição de principal acusadora no processo, foi surpreendida ao final do discurso por um Renan alterado, que brandia uma folha de papel. "Vossa Excelência é sonegadora de R$ 1 milhão", disse Renan, em referência a processo que ela sofre por ter deixado de recolher imposto sobre verbas parlamentares quando era deputada estadual, nos anos 90.
Do fundo do plenário, Heloisa respondeu no mesmo tom. "Não é verdade! Não é verdade! Vossa Excelência passe água sanitária na boca antes de falar meu nome", disse. Renan arrematou: "E Vossa Excelência passe água oxigenada na boca para falar de mim".
Heloisa declarou, depois da sessão, que não recolheu porque verba de gabinete não é renda, e que está recorrendo no Supremo Tribunal Federal.
Em outros dois momentos, Renan atacou senadores na linha de frente das acusações contra ele. Ao responder a Jefferson Peres (PDT-AL), que havia discursado pouco antes, disse: "Eu poderia, senador Jefferson Peres, ter contratado a Mônica Veloso como funcionária do meu gabinete. Mas preferi não fazer", afirmou. Peres, durante o processo, recebeu ameaças veladas de renanzistas, que relembraram acusações de gestão fraudulenta contra ele em uma siderúrgica.
Ao se referir a Pedro Simon (PMDB-RS), que pouco antes cobrara seu afastamento do cargo, Renan deu declaração que foi interpretada como um recado para todos os senadores. "Eu poderia ter contratado a produtora dela [Mônica Veloso] para fazer um filme e dar a conta para a Secretaria de Comunicação do Senado. Eu não fiz isso." Em sua fala, Renan colocou-se como um defensor do Congresso. "Sou vítima da obstinação por desmoralizar esse poder. Não vamos reafirmar a democracia dessa forma, mas sim se soubermos valorizar esse poder, que representa a sociedade", afirmou.
Sobre o que definiu como seu "drama" pessoal, Renan falou extensivamente. "A injustiça me dilacera a alma, destrói a honra. Sou vítima da sofreguidão por desmoralizar homens públicos." Ele listou algumas realizações suas, como o fim das convocações extraordinárias do Congresso, e definiu sua situação como um "martírio". Foi bastante crítico ao falar da imprensa: "A batalha contra a mídia é desigual. Estou lutando pela minha inocência".
Renan repetiu sua linha de defesa, de que reconheceu a filha e que não se furtou a sustentá-la. Sobre Claudio Gontijo, funcionário da empreiteira Mendes Júnior que realizava os pagamentos à filha, afirmou que é um amigo. Renan declarou ainda que nunca beneficiou a empreiteira Mendes Júnior com emendas.
De acordo com ele, todas as perícias de documentos feitas pela Polícia Federal o isentaram. Renan terminou lançando um apelo direto aos senadores: "Observem a verdade, sigam suas consciências. Tenho orgulho do Senado Federal, orgulho de presidir essa Casa".
(FÁBIO ZANINI, SILVIO NAVARRO, FERNANDA KRAKOVICS, ANDREZA MATAIS, MARIA LUIZA RABELLO)
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Agora, o vagabundo posa de bom moço. Se ele sabe de tanta sujeira de outros senadores, seus iguais, porque não denuncia? O que está ganhando em ficar calado? Está, segundo a lei, sendo conivente com o crime. E, mais uma vez, ninguém faz nada. Nesse país subdesenvolvido, o crime compensa.
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