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Em um mau ambiente

Se a renúncia lembrou a Lula a perda quando um filho sai de casa, esse filho fez muito bem em ir para longe de tal pai



Jânio de Freitas

Marina Silva teve motivos para renunciar muito antes, ainda no primeiro mandato de Lula, e devia tê-lo feito. Depois de contrariedades, desautorizações e críticas ostensivas, como as que Lula lhe fez, entre tantas outras, a pretexto dos transgênicos e da licença ambiental para hidrelétricas no rio Madeira, Marina Silva não tinha por que esperar a humilhação de ver um trabalho seu entregue ao comando de quem não deu a perceber, jamais, o menor conhecimento de meio ambiente e, ainda menos, de Amazônia. O gesto de Lula, sem justificativa real ou ao menos para guardar aparências, foi uma declaração de falta de confiança.

Por seu lado, Lula agiu com uma falta gritante de respeito humano. Sua lengalenga posterior, tão suave e sentida, mais acentua do que disfarça a humilhação pública que praticou. Se, em sua comparação, a renúncia de Marina Silva lembrou-lhe a surpresa e a perda no dia em que um filho sai de casa, esse filho fez muito bem em ir para longe de tal pai.

À parte sua brutalidade, tem um sentido grave a transferência do Plano Amazônia Sustentável, do Meio Ambiente para a Secretaria de Assuntos Estratégicos de Longo Prazo e também de agora mesmo. Significa o avanço que obtêm, no governo e em Lula, concepções militaristas (de características mais de primeiro mundo do que brasileiras) e suposições belicosas como perspectivas do Brasil. Lula se chega a Médici, não só por sua adesão ao "ninguém segura este país", mas também pelo "Brasil Grande" e o "Brasil Potência", que, no dizer de Nixon, fará a "América Latina ir para onde o Brasil for".

Ao aceitar o lugar de Marina Silva, Carlos Minc aceita a restrição a políticas ambientais suas para os problemas da Amazônia. Se foi informado de tal condição do convite, não se sabe. Sim ou não, leva ao mesmo: a probabilidade de problemas. Lula se interessou pela rapidez, também vista como certa afoiteza, com que Minc decidiu dificuldades de licenciamento ambiental para algumas obras no Estado do Rio. Mas Carlos Minc não é só -ou até aqui não foi só - um político/administrador de atividade ininterrupta, determinada e rápida. Minc conhece o seu assunto e nele tem idéias consolidadas. Se também tem disposição para concessões, ou não, é o que veremos agora.

A ida de Carlos Minc para o governo federal segue uma regra que já se torna tradição: de um jeito ou de outro, o Rio perde. Secretário estadual de Meio Ambiente há um ano e quatro meses, Minc fez trabalho bom e assim reconhecido, inclusive pela disposição com que iniciou a recuperação de áreas ambientais maculadas por invasores ricos, sobretudo no litoral mais valorizado. Não era mesmo uma atividade que prospere no Rio.

Fica à disposição de interpretações o comunicado de Lula: "A política ambiental do governo não mudará em nada". Com a Amazônia entregue a pretensos estrategismos aquartelados e um presidente só interessado em rápidas licenças ambientais, não se sabe se Lula fez apenas outra frase sem sentido ou uma ameaça.
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