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UNESCO: Brasil pode enfrentar brasileiro

Governo opta por candidato egípcio para órgão das Nações Unidas e o atual “número 2”, Marcio Barbosa, pode ser lançado por outro país. Ministro Celso Amorim nega pretensão a agência atômica

Silvio Queiroz

Até o fim deste mês, o governo brasileiro pode se ver diante da situação incômoda de ter um brasileiro candidato a um cargo internacional de enorme visibilidade e prestígio — o de diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) — sem o apoio do país.

No último dia 30, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu com o chanceler Celso Amorim a adesão à candidatura do egípcio Hosni Farouk, ministro da Cultura, apontado como antissemita e por isso rejeitado por países como Estados Unidos e França. Um de seus adversários poderá ser o atual diretorgeral adjunto do organismo, Marcio Barbosa, que já foi diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e tem a simpatia da comunidade científica e acadêmica. O prazo para apresentação de candidaturas expira no próximo dia 31, mas a eleição deve ocorrer apenas em setembro.

Falando por telefone ao Correio, de Paris, sede da organização, Barbosa desmentiu que já tenha aceitado o lançamento de seu nome por outro país — embora não esconda sua “frustração” e o desacordo frontal com a avaliação do Itamaraty e a decisão “precipitada e equivocada” de apoiar o egípcio. “Começaram a circular rumores (sobre a candidatura), mas é um assunto até desagradável para mim, porque sou brasileiro, tenho um compromisso com o país, uma carreira na direção de órgãos do governo brasileiro”, disse o número 2 da Unesco. “Eu torço muito para que o presidente Lula reverta essa posição, com base em outras avaliações que mostram que minha candidatura é viável. Do contrário, darei outros passos: não sei se volto para o Brasil, se fico por aqui, não sei se vou ser tentado por outros países a encarar uma briga dessas.”

A decisão do governo de não apoiar Barbosa nem o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), cujo nome também estava sendo cogitado, causou controvérsia crescente e levou Amorim a convocar a imprensa para desmentir que o motivo fosse uma pretensão sua de se apresentar para a sucessão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). “Não fui, não sou nem serei candidato à agência atômica, da mesma maneira como eu não era e não fui candidato à Organização Mundial do Comércio”, disse o ministro. A opção pelo candidato egípcio para o comando da Unesco obedeceria, segundo o chanceler, à mesma lógica pela qual o país “apoia desde o início e continuará apoiando” o sul-africano Abdul Saba Minty: trabalhar por uma candidatura capaz de unir os países em desenvolvimento e fortalecer a cooperação Sul-Sul, um dos pilares da política externa do governo Lula.

Amorim manifestou “respeito” por ambos os pretendentes brasileiros, ressaltou que o Brasil “tem bons candidatos para qualquer cargo internacional que se queira citar”, mas contradisse “a premissa de que algum deles teria “vitória líquida e certa”. “As sondagens que fizemos não mostram isso, mostram que um brasileiro teria chance, mas seria uma disputa bastante renhida”, argumentou. Segundo o ministro, a opção pelo ministro Hosni Farouk responde “à política forte de aproximação com os países árabes”, expressa pela realização de duas cúpulas entre dirigentes da região e da América do Sul, por iniciativa brasileira. “É um candidato que tem apoio da Liga Árabe e da União Africana, que somam 20 votos no Conselho da Unesco”, justificou.

Diálogo

O ministro contornou uma questão sobre posições antissemitas atribuídas a Farouk — “na página dele (na internet) você lê que um lado acusa de uma coisa e o outro lado, de outra” — lendo um trecho da carta na qual comunicou o apoio. Na passagem, o ministro manifesta confiança em que o egípcio “se emprenhará em fomentar o diálogo entre civilizações, no espírito de tolerância” — compromisso que teria sido assumido pelo candidato. Segundo Amorim, a decisão foi tomada “no mais alto nível” do governo, após o presidente Lula ter ouvido emissários da Liga Árabe e do Egito, e com base em sondagens que não teriam identificado fissuras no apoio árabe.

“Não acredito nessa tese de que ele une o mundo em desenvolvimento”, contesta Marcio Barbosa, apoiado no corpo a corpo diário entre os representantes dos 58 países que decidirão a disputa.

“Acabam de ser lançados um argelino e um tanzaniano.” Esse cenário, ele garante, foi passado ao Itamaraty e transmitido ao presidente Lula também pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que esteve na Unesco, em Paris, com os deputados Nárcio Rodrigues (PSDB-MG) e Arlindo Chinaglia (PTSP).

“Eu repito: torço muito para que o governo reconsidere em tempo essa posição inexplicável e apóie um candidato brasileiro, reconheça que a Unesco é importante. O Brasil nunca chegou pelo voto à direção de um organismo das Nações Unidas.”

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