Empreiteira tem faturamento com cofres públicos superior ao da Odebrecht e da Comargo Corrêa
Por André Borges e Paola de Moura | Valor
De Brasília e do Rio
A Delta Construções, empreiteira que está no centro dos escândalos de corrupção no Distrito Federal e é um dos principais alvos da oposição na CPI do Cachoeira, é uma velha conhecida das fiscalizações realizadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Controladoria-Geral da União (CGU). O volume de processos que associam a construtora a indícios de irregularidades graves em contratos públicos só não é mais surpreendente que o seu desempenho financeiro galgado no governo federal.
Entre 2009 e
Historicamente, o protagonista responsável por esse desempenho tem sido o Departamento Nacional de infraestrutura de Transportes (Dnit). De 2004 para cá, foram mais de R$ 3 bilhões em contratos firmados com a autarquia do Ministério dos Transportes. Desse total, mais de R$ 1 bilhão foram pagos pelo Dnit nos últimos dois anos.
Na lista de clientes da Delta também está a divisão de obras do Exército, a qual era comandada até agosto do ano passado pelo general Jorge Fraxe, que deixou o posto para assumir a diretoria do Dnit. Os batalhões de engenharia dos militares, embora em valores muito inferiores aos contratados pelo Dnit, são clientes regulares da Delta desde 2006.
Em resposta encaminhada ao Valor, o Exército informou que o 9º Batalhão de Engenharia de Construção, de Cuiabá (MT), contratou a empresa por meio de licitação e que foram firmados dois contratos. O primeiro, segundo o Exército, já foi encerrado e o segundo acaba no dia 30 de maio.
Segundo o Exército, não há nenhuma contratação com a Delta em regime emergencial ou com dispensa de licitação.
Contratos que não seguem os tradicionais caminhos da licitação pública têm marcado a trajetória meteórica da empresa. Em
Procurado pelo Valor, o Dnit não se manifestou sobre o assunto.
Um dos casos mais recentes de contratações polêmicas da Delta ocorreu em agosto do ano passado. Para erguer um "puxadinho" no aeroporto internacional de Guarulhos (SP) e evitar o caos aéreo no fim de ano, a Infraero contratou a Delta por R$ 85,75 milhões. O TCU, contrário à decisão da estatal, chegou a suspender parte do pagamento à empreiteira. Auditores questionavam o prazo de entrega da obra, de no máximo 180 dias, além da "falta de comprovação de capacidade técnica da empresa contratada para a execução do objeto contratado". A decisão, no entanto, foi revertida pela Infraero e as obras foram retomadas. As obras, com se temia, não ficaram prontas para o fim do ano.
Foram concluídas em janeiro, último dia previsto no contrato.
Comandada por Fernando Cavendish, a empresa tem mais de 22 mil funcionários, atuando em obras de rodovias, saneamento, engenharia ambiental, energia e montagem industrial, segundo a organização Contas Abertas. Além da construtora, outras três empresas compõem o grupo, a Delta Energia, a Delta Incorporação e a Delta Montagem Industrial. Envolvida em uma série de acusações pelo país, a Delta é dona hoje de 300 contratos em 23 Estados e no Distrito Federal. Por meio de nota, a empreiteira informou que está "estruturando sua área jurídica para que possa ter a melhor capacidade possível de responder as acusações que lhe são feitas".
No Rio de Janeiro, o volume de recursos pagos pelo Estado à empreiteira cresceu em quase oito vezes nos três últimos governos. Na gestão Garotinho (1999-2002), o Rio repassou R$ 146 milhões para a Delta; no governo de Rosinha Matheus (2003-2006) e no primeiro mandato de Sérgio Cabral (2007-2010), foram R$ 1,14 bilhão, sendo que R$ 148 milhões com dispensa de licitação. Além disso, em um ano e três meses do segundo mandato de Cabral, já foram R$ 582 milhões, ou seja, mais da metade de todo o primeiro governo Cabral. O levantamento foi feito pelo deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), especialista em orçamento.
Foi a partir do Rio que a Delta ganhou projeção nacional. A construtora foi criada em 1960, pelo engenheiro Inaldo Soares, ex-funcionário do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) e pai de Fernando Cavendish. Por já ter trabalhado no setor, Soares se dedicou a prestar serviços de conservação e manutenção de rodovias do Nordeste. Foi o filho quem decidiu migrar a empresa do Recife para o Rio, em 1995, de olho em licitações maiores. No entanto, Cavendish acreditava que o DNA da empresa deveria ser mantido, por conta de sua expertise em participar de obras públicas, como contou o próprio empresário numa entrevista ao Valor há cerca de um ano.
No Rio, foi responsável pela primeira etapa de construção do Estádio João Havelange, o Engenhão, construído para o Panamericano de 2007, uma expansão erguida sobre o prédio do Tribunal de Justiça do Rio, ao custo de R$ 136 milhões, e pela reforma do Maracanã, obra inicialmente orçada em R$ 400 milhões, e que hoje custará em torno de R$ 700 milhões.
No Estado, a empresa vem se especializando em obras emergenciais. No governo Rosinha, foram R$ 12,117 milhões. No primeiro governo Cabral, R$ 148,35 milhões. E neste um ano e três meses do segundo mandato, R$ 85,98 milhões.
Em julho de 2011, um acidente na Bahia deixou clara a relação próxima do governador com o empresário. Cabral viajara à Bahia para comemorar o aniversário de Cavendish num resort da região. O helicóptero que transportaria o governador junto com o empresário, caiu no sul do Estado matou sete pessoas, entre elas a mulher e o filho de Cavendish e a namorada do filho de Cabral.
(Colaborou Fernando Exman, de Brasília)
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