ALANA RIZZO, FÁBIO FABRINI / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Maior empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a Delta Construções S.A. teria negociado facilidades em contratos diretamente com a cúpula do Governo do Distrito Federal (GDF), em troca de favores de campanha eleitoral, como indicam grampos da Polícia Federal.
Em conversas gravadas na Operação Monte Carlo, aliados do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de comandar uma rede de jogos ilegais no País, revelam que a diretoria da empresa no Rio de Janeiro "cobrava a fatura" de doações eleitorais ao pressionar o Palácio do Buriti por nomeações e a liberação de verbas.
Os diálogos sugerem ainda uma relação de proximidade entre Cachoeira e o dono da Delta, Fernando Cavendish.
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Com Agnelo eleito, segundo a PF, a Delta tentava emplacar aliados em cargos-chave de administrações regionais e do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), o que facilitaria os negócios. Além disso, tentava receber débitos do governo do DF por serviços supostamente prestados.
Conforme os grampos, o então diretor da empresa no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, enfrentava dificuldades para atingir seus interesses e os diretores da Delta no Rio tomaram as rédeas. "Como ele (Cláudio) tá no 'pé da goiaba' e a chefia do Rio é que ficou na negociação de campanha, as autoridades do Rio vieram e cobraram a fatura", relatou num telefonema o araponga Idalberto Matias, o Dadá, aliado de Cachoeira, ao ex-assessor especial da Casa Militar do GDF, Marcelo Lopes, o Marcelão – que aguardava para conversar com o chefe de gabinete de Agnelo, Cláudio Monteiro.
A conversa foi interceptada pela PF em 31 de março de 2011, dia
Num dos grampos, Abreu pergunta a Cachoeira: "Quer encontrar com o chefe?". "Com o governador?", retruca Cachoeira. "Com o Fernando, poxa!", esclarece, referindo-se a Cavendish, o dono da construtura Delta.
Reunião. Emissários da Delta no Rio estiveram em Brasília em 31 de março de 2011 para conversar com representantes do governo do DF. Num diálogo, Dadá conversa com um funcionário da empreiteira identificado como Andrezinho. Possivelmente, trata-se de André Teixeira Jorge, motorista de Cláudio Abreu.
O araponga explica que Abreu está "sem moral" com o governo e que, diante disso, caberia aos seus superiores acionar o "01". Segundo a PF, conforme antecipou ontem o estadão.com.br, "01" era o tratamento dado pelo grupo a Agnelo (leia na página A6). Na ligação, eles contam que a lista de nomeações no governo seria levada ao secretário de Governo, Paulo Tadeu (PT).
Dias depois, a Delta conseguiu liberar o pagamento de faturas. Na mesma data, o SLU emitiu nota de empenho de R$ 2,8 milhões em favor da construtora, paga na segunda-feira seguinte. Ao longo do ano, a Delta recebeu R$ 92 milhões do GDF, em faturas não raro negociadas pela organização de Cachoeira nos bastidores, como mostram os grampos.
Defesa. Procurada pelo Estado, a Delta confirmou que Cavendish e Cachoeira se conhecem, tendo sido apresentados "socialmente". "Não há e nem jamais houve convívio maior nem outra relação profissional entre eles. Como a apresentação se deu em um evento social sem maior relevância, não há lembrança específica sobre datas ou assuntos tratados em conversas pessoais", diz nota. A Delta informou desconhecer "os trechos, o teor e as motivações" das gravações. Segundo a empresa, Dada não era um de seus funcionários e Abreu foi afastado em 8 de março em razão das suspeitas levantadas na Monte Carlo. "Ele tinha relações pessoais com o empresário Carlos Augusto Ramos. A extensão e a profundidade dessas relações estão sendo investigadas."
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