Maria Lima – O Globo
A estratégia antes negada publicamente pela maioria dos petistas - de usar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Carlinhos Cachoeira para desviar o foco e neutralizar o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF) - foi admitida ontem pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão. Em vídeo de quase dois minutos postado ontem à tarde no site oficial do partido, Falcão conclama centrais sindicais e partidos políticos que defendem o combate a corrupção, além de movimentos populares, a fazerem uma mobilização contra o que chamou de "operação abafa" que visaria a impedir a realização da investigação da CPMI, que já envolve parlamentares de seis partidos, inclusive do PT.
No vídeo, pela primeira vez, Falcão cita a intenção de desmascarar, na CPMI, aqueles que, segundo o presidente do PT, são os autores do que ele chama de "farsa do mensalão", PSDB e DEM. As declarações foram criticadas pela oposição e até por setores mais moderados do PT.
Falcão começa sua fala dizendo que está em operação "uma verdadeira operação abafa, uma tentativa de setores políticos e veículos de comunicação que tentam, a qualquer custo, impedir que se esclareça plenamente toda a organização criminosa montada por Carlinhos Cachoeira em conluio com o senador Demóstenes Torres, que já se afastou com DEM na tentativa de isolar o partido do escândalo".
Em seguida, é específico sobre o mensalão:
- A bancada do PT na Câmara e no Senado defende uma CPI para apurar esse escândalo dos autores da farsa do mensalão. É preciso que a sociedade organizada, movimentos populares, partidos políticos comprometidos com a luta contra a corrupção, como é o PT, mobilizem-se para impedir a operação abafa, e para desvendar todo o esquema montado por esses criminosos, falsos moralistas que se diziam defensores da moral e dos bons costumes - conclama Falcão.
No vídeo, ele ataca o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), mas não faz nenhuma menção ao envolvimento do governador petista do Distrito Federal, Agnelo Queiroz - que teve seu nome citado na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, como interessado num suposto encontro com Cachoeira, o que Agnelo nega.
- Nós queremos que uma CPI possa apurar todos os vínculos desse senador (Demóstenes) e vários políticos de diferentes partidos com o jogo do bicho, com contrabando, com informações privilegiadas sobre operações policiais. É um esquema que chega ao governador de Goiás, Marconi Perillo, que tenta colocar todo mundo na vala comum. Esta semana mesmo ele disse que em Goiás todo mundo tinha relações com Carlinhos Cachoeira - diz Falcão.
Vídeo não cita petistas envolvidos com bicheiro
O presidente do PT não citou também o suposto envolvimento do deputado Rubens Otoni (PTGO) e do subchefe de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais, Olavo Noleto, outro petista histórico em Goiás, com o bicheiro goiano:
Falcão encerra o vídeo com um apelo final:
- CPI do Demóstenes para esclarecer seus vínculos com a corrupção e com os políticos corruptos!
O senador Jorge Viana (PT-AC) mostrou preocupação, temendo que a declaração de Falcão e a vinculação com o mensalão contaminem a credibilidade da CPMI
- Essa CPMI é suprapartidária e não tem essa característica de ser um partido contra outro. Ela não pode estar vinculada ao tema do mensalão. Esse é um problema que nós no PT temos uma versão, e o Brasil tem outra. A CPMI tem origem em pessoas que nos acusavam, mas eu defendo que a gente não dê à oposição o mesmo tratamento que recebemos dela no início. O presidente do PT tem outras missões a cumprir - disse Viana.
Na oposição, houve reação à fala de Falcão:
- É um esforço para evitar o óbvio: a condenação dos culpados, que já foram inocentados pelo PT. Se a sociedade se mobilizar, vai ser para exigir a condenação - disse o presidente do PSDB, Sérgio Guerra. Para o ex-petista e líder do PSOL na Câmara, deputado Chico Alencar (RJ), negar o mensalão e usar a CPMI para desviar o foco do julgamento é um exercício de ficção:
- É um delírio completamente artificial. Estou assustado com essa tentativa que é até infantil de tão precária, de tão frágil. Desde que surgiram as primeiras evidências do mensalão, setores do PT ficaram indignados e nunca negaram sua existência.
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