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Papódromo construído no governo Collor é abandonado e vira depósito de lixo em Maceió

Carlos Madeiro
Do UOL, em Maceió

Em 1991, ao saber da visita do papa João Paulo 2º a Maceió, o então presidente Fernando Collor de Mello (PTB) investiu cerca de R$ 30 milhões (em valores atualizados) e construiu uma grande igreja a céu aberto para receber o líder mundial da Igreja Católica.

O papódromo, como ficou conhecido o Espaço Cultural Papa João Paulo 2º, recebeu a visita do papa no dia 19 de outubro de 1991. Passadas mais de duas décadas, o local vive hoje renegado pelas autoridades. Sem projetos ou eventos, se transformou em um problema para as autoridades e moradores da região do Vergel do Lago.

Construído às margens da lagoa Mundaú, o papódromo chegou a receber algumas celebrações religiosas e culturais ao longo dos anos, mas, sem manutenção, o local foi esquecido e se tornou depósito de lixo -- especialmente restos de construções -- e ponto de uso de drogas durante as noites. Ao lado de uma das maiores favelas de Maceió, animais também passeiam com frequência por ali para comer o mato que cresceu pela falta de cuidado. 


Conforto sucateado

A estrutura do local era grandiosa e adotou conceitos de arquitetura moderna, com estrutura metálica e vidros blindados. A ideia era oferecer conforto e segurança ao papa e aos fiéis, mas tudo está sucateado e com pontos de ferrugem. No alto, a cruz -- uma das poucas coisas que restaram inteiras -- simboliza que o local deveria servir para ações religiosidade. Os vidros já foram roubados há muito tempo.

Em anos passados, a Arquidiocese de Maceió chegou a fazer um projeto de revitalização do local, cobrou ação do poder público, mas nada saiu do papel. O então prefeito de Maceió, Cícero Almeida, afirmou, em entrevista em 2011, que aquele espaço não era de responsabilidade do Estado nem do município. "Ele é do povo. É assim que está registrado", disse. 


Moradores reclamam

Cansados das promessas de melhorias, os moradores da região não escondem a frustração em ver uma obra tão cara abandonada. Para a população, a principal queixa é o medo da violência causado pelo local abandonado.

O vigilante Roberto Tibúrcio da Silva, 27, reclama do clima de insegurança causado pelo lixo amontoado. "O medo que eu tenho é de encontrar alguém entre esses entulhos que queira fazer o mal. Hoje, um pai de família aqui não pode sequer sair para ir à igreja. De santo, esse local só tem a cruz e nada mais", disse.

A dona de casa Anely Santos, 31, reclama da sujeira e dos constantes assaltos e assassinatos nas redondezas do papódromo. "Fica essa sujeira desagradável. Além disso, aqui é um tal de rouba-rouba e mata-mata quase todo dia", afirmou.

Maria de Lourdes Paulino da Silva, 42, também dona de casa, chegou à comunidade há dois meses e já pensa em se mudar. "O fedor e o lixo provocam uma grande quantidade de moscas, e os bichos que trazem doenças para mim e para minha família. Quero ver se, em breve, arrumo um local melhor", conta ela, que mora vizinha ao local. 


Respostas

Segundo a Slum (Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió), o local tem recolhimento de lixo frequente. "Estão sendo feitas limpezas sistemáticas. Posteriormente a Slum e a Secretaria de Proteção ao Meio Ambiente irão fazer uma fiscalização in loco, pois a informação que temos é de que o lixo é predominantemente resto de construção. Com isso, as construtoras poderão ser autuadas", disse o superintendente Gustavo Novaes.

A reportagem do UOL também procurou a Secretaria Municipal de Infraestrutura, que informou que, por ser início de gestão, ainda não possui projetos para o papódromo abandonado. Mas adiantou que o local está na "lista de demandas" da pasta para os próximos meses.
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