Alberto Youssef
Camargo Corrêa
Constran
Engevix. Mendes Jr.
GDF
lavagem de dinheiro
Márcio de Andrade Bonilho
Meire Poza
OAS
Paulo Roberto Costa
Petrobrás
PMDB
PP
PT
Sanko Sider
UTC
José Casado | O Globo
Estava refém numa cama do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Convalescia de um infarte, mas a aflição aumentava na proporção dos atrasos e do esvaziamento do caixa da nave-mãe do grupo. Autorizara seu procurador, João Procópio, a tentar cobranças diretas. Procópio pediu ajuda à contadora, Meire Poza.
— Ele me disse que a Camargo Corrêa devia R$ 12 milhões, por negócios com a Petrobras — ela contou em juízo. — Me pediu para preparar (notas fiscais). Iria até a Camargo, ver se recebia, pelo menos, R$ 2 milhões.
A contadora emitia notas “frias”, para simular serviços a empresas privadas envolvidas em projetos da Petrobras, como a construção da refinaria em Pernambuco e a montagem de plataformas de petróleo. Cuidava da aparência legal do dinheiro de propinas que entrava na GDF, empresa-líder do banco clandestino montado por Alberto Youssef, em cujo prontuário reluzem fraudes e lavagem de dinheiro. As notas emitidas por Meire não foram usadas:
— Parece que pagaram de outra forma — disse ao juiz.
Ela e o advogado Carlos Pereira da Costa trabalhavam para Youssef. No tribunal destacaram como clientes do “banqueiro” a Sanko Sider, Engevix, Camargo Corrêa, Mendes Jr., UTC-Constran e a OAS. As empresas negam ilicitudes.
Na segunda-feira, 7 de outubro do ano passado, o ex-enfartado Youssef atendeu ao telefone. Era um dos seus parceiros, Márcio de Andrade Bonilho, dono da Sanko Sider, fornecedora de tubos de aço para a Petrobras e empreiteiras contratadas pela estatal. Desfrutavam intimidade. Bonilho tratava Youssef pelo apelido de “Presi”. Às vezes, pronunciava “Presidente”.
Bonilho praguejava sobre os atrasos de pagamentos das empreiteiras:
— A Chaim tá f*, hein. Tá f*.
— Do nosso pessoal, o único que tá atrasado é o GMIX — respondeu Youssef.
Voltaram a conversar no dia seguinte, terça-feira 8 de outubro. O dono da Sanko Sider desabafou assim, conforme o processo judicial:
— Tá f*, Presi. Nóis precisamo arrumá uns 5 milhão prá dá uma ajeitada no fluxo, senão... O negócio tá feio pra caramba, cara. A Chaim não paga, tá f* (…) Vamo lá, presi (...) Precisa sará logo pra me arrumá um dinheiro, véi. Se não, comé que eu vô fazê aqui. Vai se f* prá sobrevivê.
Treze dias depois, na segunda-feira 21 de outubro, outro telefonema. Youssef queixou-se de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, responsável pelo projeto da refinaria pernambucana e com aliados no PT, no PMDB e no PP.
— Cara, ele acha que foi prejudicado, cê tá entendendo — disse a Bonilho. — O tanto de dinheiro que nós demo pra esse cara... E ele tem coragem de falá que foi prejudicado...
— Recebi nove milhão em bruto — prosseguiu. — Vinte por cento, eu peguei (...) Vê quanto ele levô. Vê quanto o comparsa dele levô. Vê quanto o Paulo Roberto levô (...) E vem falá pra mim que tá prejudicado?
Crises financeiras foram exceção nesse pedaço do submundo dos negócios com a Petrobras, dizem a contadora e o advogado. Até sua prisão, em março passado, Youssef vivia uma rotina de caixa recheado e recepção a parlamentares numa sala nos fundos do seu escritório paulista. O advogado Pereira da Costa contou ao juiz:
— Existia lavagem de dinheiro, sim. E eu vi vários deputados lá.
O submundo dos petronegócios
‘Banqueiro’ de empreiteiras recebia parlamentares nos fundos do escritório. Seu advogado disse ao juiz: ‘Existia lavagem de dinheiro, sim. Vi vários deputados lá’
José Casado | O Globo
Estava refém numa cama do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Convalescia de um infarte, mas a aflição aumentava na proporção dos atrasos e do esvaziamento do caixa da nave-mãe do grupo. Autorizara seu procurador, João Procópio, a tentar cobranças diretas. Procópio pediu ajuda à contadora, Meire Poza.
— Ele me disse que a Camargo Corrêa devia R$ 12 milhões, por negócios com a Petrobras — ela contou em juízo. — Me pediu para preparar (notas fiscais). Iria até a Camargo, ver se recebia, pelo menos, R$ 2 milhões.
A contadora emitia notas “frias”, para simular serviços a empresas privadas envolvidas em projetos da Petrobras, como a construção da refinaria em Pernambuco e a montagem de plataformas de petróleo. Cuidava da aparência legal do dinheiro de propinas que entrava na GDF, empresa-líder do banco clandestino montado por Alberto Youssef, em cujo prontuário reluzem fraudes e lavagem de dinheiro. As notas emitidas por Meire não foram usadas:
— Parece que pagaram de outra forma — disse ao juiz.
Ela e o advogado Carlos Pereira da Costa trabalhavam para Youssef. No tribunal destacaram como clientes do “banqueiro” a Sanko Sider, Engevix, Camargo Corrêa, Mendes Jr., UTC-Constran e a OAS. As empresas negam ilicitudes.
Na segunda-feira, 7 de outubro do ano passado, o ex-enfartado Youssef atendeu ao telefone. Era um dos seus parceiros, Márcio de Andrade Bonilho, dono da Sanko Sider, fornecedora de tubos de aço para a Petrobras e empreiteiras contratadas pela estatal. Desfrutavam intimidade. Bonilho tratava Youssef pelo apelido de “Presi”. Às vezes, pronunciava “Presidente”.
Bonilho praguejava sobre os atrasos de pagamentos das empreiteiras:
— A Chaim tá f*, hein. Tá f*.
— Do nosso pessoal, o único que tá atrasado é o GMIX — respondeu Youssef.
Voltaram a conversar no dia seguinte, terça-feira 8 de outubro. O dono da Sanko Sider desabafou assim, conforme o processo judicial:
— Tá f*, Presi. Nóis precisamo arrumá uns 5 milhão prá dá uma ajeitada no fluxo, senão... O negócio tá feio pra caramba, cara. A Chaim não paga, tá f* (…) Vamo lá, presi (...) Precisa sará logo pra me arrumá um dinheiro, véi. Se não, comé que eu vô fazê aqui. Vai se f* prá sobrevivê.
Treze dias depois, na segunda-feira 21 de outubro, outro telefonema. Youssef queixou-se de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, responsável pelo projeto da refinaria pernambucana e com aliados no PT, no PMDB e no PP.
— Cara, ele acha que foi prejudicado, cê tá entendendo — disse a Bonilho. — O tanto de dinheiro que nós demo pra esse cara... E ele tem coragem de falá que foi prejudicado...
— Recebi nove milhão em bruto — prosseguiu. — Vinte por cento, eu peguei (...) Vê quanto ele levô. Vê quanto o comparsa dele levô. Vê quanto o Paulo Roberto levô (...) E vem falá pra mim que tá prejudicado?
Crises financeiras foram exceção nesse pedaço do submundo dos negócios com a Petrobras, dizem a contadora e o advogado. Até sua prisão, em março passado, Youssef vivia uma rotina de caixa recheado e recepção a parlamentares numa sala nos fundos do seu escritório paulista. O advogado Pereira da Costa contou ao juiz:
— Existia lavagem de dinheiro, sim. E eu vi vários deputados lá.
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