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Perfil de Paulo Roberto Costa no Wikipédia é alterado através de rede da Petrobras

Publicação foi retirada do ar seis minutos depois, e diz que candidato é 'cria' do governo FH


Raphael Kapa | O Globo

RIO – O perfil de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras e um dos denunciados na operação “Lava-Jato” da Polícia Federal, foi alterado na tarde deste sábado através da rede da própria estatal. As modificações afirmam que o Paulo Roberto é uma “cria” do governo tucano de Fernando Henrique e que foi demitido porque estava “muito soltinho”. As alterações destacam que a demissão ocorreu após a posse da atual presidente da estatal Graça Foster, e com aprovação da presidente da República e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT). A publicação ocorreu às 16h16min e foi retirada do ar seis minutos depois.



O rastreamento que identificou a origem da alteração foi feito pelo serviço de monitoramento @BRwikiedit. A página, originalmente monitorava somente a rede do Congresso mas, há cerca de um mês, passou a também fiscalizar as modificações que usuários da Procuradoria Geral da República, Dataprev, Petrobras, Banco Central, Banco do Brasil, Caixa e mais 40 entidades produzem na enciclopédia on-line.

O texto liga o crescimento profissional do ex-diretor ao governo Fernando Henrique. Uma parte dedicada especialmente a isto, intitulada “Ex-diretor começou no governo de FH”, diz que não é verdade que Paulo Roberto Costa começou sua carreira em 2004, durante o governo Lula, e que suas primeiras indicações políticas ocorreram em 1995, durante o mandato de FH.

“Tem sido divulgado à opinião pública que Paulo Roberto Costa, agora no epicentro de um escândalo de corrupção, teria começado sua carreira na Petrobras em 2004 – portanto, no governo Lula –, quando foi nomeado diretor de Abastecimento. Isso não é verdade. Ele entrou na Petrobras muito antes, em 1979, quando participou da instalação das primeiras plataformas de petróleo na Bacia de Campos (RJ). Suas primeiras indicações políticas dentro da estatal ocorreram quando o PSDB ganhou a presidência da República.”, afirma o perfil modificado.

As informações sobre as posições que Costa assumiu na estatal desde que entrou em 1979 até seu desligamento correspondem ao que o próprio declarou em junho deste ano durante sessão na CPI da Petrobras no Senado, antes de ser preso.

“Em 1995, logo no primeiro ano da presidência de FHC, ele foi indicado como gerente geral do poderoso Departamento de Exploração e Produção do Sul, responsável pelas Bacias de Santos e Pelotas. Nos anos seguintes, sempre sob gestão dos tucanos, Paulo Roberto Costa foi beneficiado por várias indicações políticas internas da Petrobras. Em 1996 foi gerente geral de Logística. De 1997 a 1999 respondeu pela Gerência de Gás. De maio de 1997 a dezembro de 2000 foi diretor da Petrobras Gás – Gaspetro. De 2001 a 2003 foi gerente geral de Logística de Gás Natural da Petrobras. E de abril de 2003 a maio de 2004 (agora, sim, no início do governo Lula), foi diretor-superintendente do Gasoduto Brasil-Bolívia”.

Parte das modificações foram retiradas de um outro texto publicado pelo blogueiro Miguel do Rosário no site “Tijolaço”. Miguel foi um dos nove entrevistadores escolhidos para conversar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em abril deste ano. A escolha dos blogueiros foi feita pelo instituto do petista. No texto inserido no perfil do Wikipedia, a escolha de Paulo Roberto da Costa é justificada como “caminho natural”.

“É dito que a ‘sua indicação para diretor de Abastecimento, em 2004, por indicação do PP, na gestão Lula, era o caminho natural de alguém cujas funções internas lhe permitiram deter informações estratégicas da Petrobras’.”

Além do texto de Miguel do Rosário, as modificações também utilizaram reportagem do jornal O GLOBO do dia 26 de abril de 2012 (erroneamente colocada como do dia 24 de abril do mesmo ano) como prova de que Paulo Roberto Costa foi demitido por Graça Foster e que o Partido Progressista (PP) ficou insatisfeito com a decisão. A menção de que Costa foi demitido porque estava “muito soltinho” é feita nesta reportagem. O verbete também afirma que:

“A chamada ‘grande imprensa’, nas reportagens sobre a Operação Lava-Jato, omite dados importantes sobre um dos personagens principais. Há informações relevantes que a mídia tem sonegado à população brasileira”.

Procurada, a assessoria de imprensa da Petrobras não possuía uma posição sobre o caso.

A alteração foi realizada dois dias após o Planalto exonerar o responsável pela alteração das páginas de jornalistas na Wikipédia. A investigação da comissão de sindicância da Casa Civil da Presidência da República identificou o servidor Luiz Alberto Marques Vieira Filho um mês após o início da apuração. Funcionário de carreira do Ministério da Fazenda, mas na época lotado na Secretaria de Relações Institucionais (SRI), o servidor fez mudanças nos perfis de Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg. O servidor vai responder a processo administrativo disciplinar (PAD).

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