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Cabos eleitorais de Fernando Holiday, líder do MBL, foram pagos no caixa 2

A campanha do vereador do DEM de São Paulo pagou em dinheiro vivo e não declarou gastos com cabos eleitorais na reta final da eleição do ano passado. Holiday nega e diz que todas as despesas da campanha foram declaradas.


Tatiana Farah e Severino Motta | BuzzFeed

A campanha do vereador Fernando Holiday (DEM) pagou em dinheiro vivo e não declarou gastos com um grupo de cabos eleitorais na reta final da eleição do ano passado. Holiday é um dos líderes do MBL (Movimento Brasil Livre).



Vereador de São Paulo Fernando Holiday (DEM) | Fabio Rodrigues Pozzebom

O BuzzFeed Brasil obteve planilhas de pagamento com os nomes e números de documentos das 26 pessoas recrutadas para realizar panfletagem para o então candidato na região da avenida Paulista e da avenida Faria Lima (zona oeste de São Paulo). Ao lado dos nomes, estavam as assinaturas dos cabos eleitorais.

Procurado, Fernando Holiday negou irregularidades e disse que todas as despesas de sua campanha à Câmara dos Vereadores de São Paulo foram declaradas à Justiça Eleitoral.

A reportagem checou a veracidade das planilhas com quatro pessoas cujos nomes e assinaturas estavam nos papéis. Eles confirmaram terem prestado serviço para o candidato e relataram que o pagamento era feito, após cada dia de trabalho, em dinheiro, na praça de alimentação de um shopping na Paulista.



Reprodução

Os cabos eleitorais recebiam R$ 60 dentro de um envelope com seus nomes ao final de cada dia de trabalho. Depois, assinavam a lista de presença no papel. Os panfleteiros são jovens que, à época, estavam desempregados.

Todos os ouvidos pelo BuzzFeed Brasil relataram a mesma história e disseram ter sido coordenados por uma mulher chamada Tatiane.

Ela é Tatiane Carvalho, estudante que aparece em fotos ao lado de Holiday e de outro líder do MBL, Kim Kataguiri. Tatiane era uma das administradoras da página de Holiday no Facebook.

A reportagem teve acesso a dois áudios de WhatsApp em que Tatiane relata como está sendo feito o trabalho de panfletagem de sua equipe à coordenação de campanha.



Reprodução

Em um dos áudios, a jovem ativista ligada ao MBL relata que sobrou dinheiro porque dois cabos eleitorais não apareceram para trabalhar e que vai pagar um extra aos demais para estenderem o trabalho por uma hora.


Áudio 1: Tatiane Carvalho trata de pagamento, em dinheiro, para cabos eleitorais de Fernando Holiday.






Em outro, Tatiane afirma que o trabalho de sua equipe é mais sofisticado do que o fornecido pela empresa Classe A – a empresa que aparece na prestação de contas do candidato à Justiça Eleitoral como a responsável pela distribuição de panfletos.

Áudio 2: Tatiane Carvalho reclama dos contratados pela Classe A (que aparece na prestação de contas) e diz que os panfleteiros que ela recrutou (e não aparecem na prestação) são mais eficientes.





Os cabos eleitorais do MBL não fazem parte da empresa que apareceu na prestação de contas enviada à Justiça Eleitoral.

Na prestação de contas de campanha de Holiday constam três notas fiscais emitidas pela empresa Classe A que somam R$ 4.755 pelo serviço de panfletagem. Uma das notas fiscais, de R$ 2000, coincide com o período em que os cabos eleitorais trabalharam: de 27 a 30 de setembro.

Mas esta nota não corresponde ao pagamento dos cabos eleitorais arregimentados por Tatiane Carvalho.




Procurada, a empresa Classe A explicou ao BuzzFeed Brasil que não paga os trabalhadores em dinheiro e não convoca pessoas que não sejam de seu quadro de funcionários.

A Classe A afirmou que não paga os empregados por dia de trabalho prestado, mas sempre por mês. O pagamento é feito por cheque ou depósito bancário.

Os cabos eleitorais ouvidos pela reportagem nunca ouviram falar da Classe A e dizem ter sido recrutados pela campanha do então candidato. Dizem que Holiday aparecia de passagem durante a panfletagem.



Cabos eleitorais vão de van para panfletar para o então candidato a vereador Fernando Holiday (DEM). Eles não aparecem na prestação de contas enviadas à Justiça Eleitoral.

Cabos eleitorais vão de van para panfletar para o então candidato a vereador Fernando Holiday (DEM). Eles não aparecem na prestação de contas enviadas à Justiça Eleitoral. | Reprodução

Os cabos eleitorais cujo pagamento não foi declarado trabalharam com camisetas da campanha, enquanto os funcionários da Classe A usavam o uniforme da empresa.

Outra diferença é que a empresa informou nunca ter arregimentado trabalhadores pelo Facebook, enquanto os cabos eleitorais ouvidos pelo BuzzFeed Brasil encontraram a oferta de trabalho pela rede social.

Os irmãos Bruno e Bruna Feitosa de Santana são dois dos cabos eleitorais que estão na planilha a que a reportagem teve acesso. Bruna contou que encontrou a oferta de trabalho em um post do Facebook. Ela convidou o irmão e outra colega para participar do trabalho.

Além dos dois irmãos, outras duas mulheres que confirmaram ter trabalhado na campanha, Bruna Thaisa Ribeiro Branco e Jaqueline Aparecida de Paula, contaram histórias idênticas sobre como foram arregimentadas e receberam em dinheiro vivo.




Todos os quatro contaram ainda terem recebido a promessa de ganhar um dinheiro extra se o candidato fosse eleito. Holiday venceu a eleição, mas a promessa nunca foi cumprida.

Os quatro cabos eleitorais relataram, em entrevistas separadas ao BuzzFeed Brasil, ter trabalhado por uma semana no final de setembro.

De acordo com as planilhas e listas de presença obtidas pelo BuzzFeed Brasil, no dia 27, foram 19 pessoas; no dia 28, foram 15. Em 29 de setembro, a equipe contou com 17 pessoas e, no dia 30, com 19.

Seriam 70 diárias de R$ 60, que somam R$ 4.200. Nenhum dos 26 nomes de cabos eleitorais listado nos papéis aparece na prestação de contas como pessoa física recebedora de pagamento da campanha do candidato ou do comitê financeiro do partido dele.

No total, Holiday declarou que gastou R$52.551,68 na campanha. A principal despesa, R$ 22 mil, foi com a publicação de anúncios em jornal.

O que diz Fernando Holiday:

Questionado pelo BuzzFeed Brasil, Fernando Holiday negou, por meio de sua assessoria de imprensa, irregularidades. A assessoria de imprensa do vereador enviou a seguinte nota à reportagem:

"Conforme exige a legislação vigente, a prestação de contas da campanha foi entregue e aprovada pela Justiça Eleitoral e pode ser consultada publicamente. O mandato do vereador Fernando Holiday não é pautado por boataria, rumores ou inúmeros ataques que sofremos todos os dias. Portanto, não havendo qualquer acusação formal, tendo em vista a aprovação das contas; especulações desta natureza são apenas mais uma tentativa de atrapalhar o mandato combativo que o jovem vereador vem realizando."

O BuzzFeed Brasil tentou contato com Tatiane Carvalho por meio de um telefone atribuído a ela, mas ela não foi localizada.

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