O executivo João Amoêdo é um desconhecido para grande parte da população. Ele deixou o mercado financeiro para ajudar na criação do Partido Novo, com o objetivo de reconstruir a política brasileira no longo prazo. Agora, é pré-candidato à presidência pela sigla que ajudou a fundar. A insatisfação com a política tradicional e a crise institucional, porém, fazem com que Amoêdo sonhe em implementar, já em 2018, suas ideias de uma economia liberal no País. Saiba o que ele pensa e o que ele quer
Márcio Kroehn | IstoÉ Dinheiro
João Amoêdo
Idade: 55 anos
Formação: engenharia e administração de empresas
Carreira: Citibank, BBA, Creditansalt, Fináustria, vice-presidente do Unibanco e membro do conselho de administração do Itaú-BBA
Propostas: reduzir o papel do Estado, equilibrar as contas públicas e realizar as reformas estruturais
“Não basta ter só um nome novo na política. É preciso ter postura e atitude novas” (Crédito: Divulgação) |
Parece impossível imaginar um político brasileiro sem um séquito de “aspones” ao redor. Esse bando de assessores cuida de quem se aproxima, faz cara feia para uma pergunta considerada indelicada e tenta garantir que a melhor imagem chegue para o cidadão. João Dionísio Filgueira Barreto Amoêdo, 55 anos, não se cerca de nenhum na entrevista concedida à DINHEIRO em seu escritório no Itaim Bibi, um bairro nobre da zona Oeste de São Paulo. Ele é um novato na política nacional e, até por esse motivo, quer fazer o contrário do que os velhos políticos fazem.
Pré-candidato do Partido Novo à presidência da República, Amoêdo pensa grande e longe. Ganhar a eleição de 2018 e ocupar a principal cadeira do Palácio do Planalto é o objetivo de curto prazo. A provável derrota, porém, não será tratada como fracasso. O fundamental é participar, influenciar e interferir na reconstrução da política nacional, para que o debate de idéias ocupe o espaço do discurso populista que tem dominado as últimas disputas – algo que, ele sabe, só vai acontecer aos poucos e em longo prazo. “Não basta ter só um nome novo na política”, diz Amôedo. “É preciso ter postura e atitude novas.”
O nome de João Amoêdo tem provocado entusiasmo no setor privado. DINHEIRO constatou que muitos executivos vêem com bons olhos a possibilidade de renovação na política, principalmente a chegada de um nome desconhecido. Mas é justamente por esse motivo que, aqueles que não são ligados ao Novo, ainda consideram prematuro falar abertamente do candidato. Esse receio é parte do traço cultural da troca de favores cultivada pela política nacional: ninguém quer ficar marcado por apoiar um “derrotado”.
Amoêdo é, de fato, desconhecido pela maior parte da população porque não tem histórico na vida pública. Mas essa é a missão que o Novo se propôs a ter: atrair para a sociedade civil para participar ativamente da política.
As credenciais do pré-candidato à Presidência pela sigla ainda estão ligadas à carreira construída como executivo do mercado financeiro, onde iniciou no Citibank, no final dos anos 1980, antes de ingressar no BBA, o banco de investimentos criado por Fernão Bracher (pai de Cândido Bracher, atual presidente do Itaú Unibanco) e Antonio Beltran Martinez, que foi adquirido pelo Itaú em 2002, por R$ 3,3 bilhões. João Amoêdo tinha uma pequena participação societária no BBA – por isso é comum as pessoas se referirem a ele como banqueiro, embora essa divisão do negócio com executivos seja uma prática de todo o mercado financeiro. Ele foi membro do conselho de administração do Itaú-BBA até 2015, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) homologou o registro de criação do Novo.
“O João deu o seu salto profissional no BBA, com a família Bracher, com um trabalho brilhante e bem-sucedido, principalmente na financeira”, diz Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central e fundador da Gávea Investimentos. “Ele é determinado, pensa grande e a longo prazo. A crise política e a possibilidade de renovação abrem um espaço importante. Estou curioso para ver como as coisas vão andar.”
O Novo é o primeiro partido, entre as 35 siglas do Brasil, a não ter vergonha de assumir ser de direita e liberal. A sigla defende o fim das coligações partidárias, usadas para vencer eleições a qualquer custo. E quer a privatização de estatais como Petrobras, Correios e Banco do Brasil.
Uma das preocupações de Amoêdo é deixar claro que ele não é a personificação do Novo, ao contrário do que acontece nos partidos tradicionais ancorados em uma figura conhecida.
O Novo foi fundado oficialmente em 2011 por 181 pessoas, das mais diferentes áreas de atuação, que nunca tinham tido contato com a política (esse grupo tirou do bolso mais de R$ 5 milhões para fazer o projeto decolar). A sigla foi criada em cima de uma ideia e não de uma pessoa. E se apresenta como o intruso dentro de uma política tradicional e clientelista.
“O trabalho exemplar conduzido pelo João e sua equipe, e o seu altruísmo ao deixar suas atribuições profissionais para colocar de pé um projeto político coletivo, são um exemplo para o País”, afirma Eduardo Mufarej, co-fundador do movimento apartidário RenovaBR, que foi criado para desenvolver novas lideranças políticas. “A iniciativa do Novo é um dos bons exemplos do novo e importante ecossistema de renovação política que está se constituindo no Brasil.”
Os críticos preferem dizer que esse é o “partido de banqueiros” ou que prega o estado mínimo. Para Amoêdo, todas essas definições buscam complicar o entendimento do que ele quer para o Brasil: um Estado mais simples e menos burocrático.
Os críticos preferem dizer que esse é o “partido de banqueiros” ou que prega o estado mínimo. Para Amoêdo, todas essas definições buscam complicar o entendimento do que ele quer para o Brasil: um Estado mais simples e menos burocrático.
O argumento do Novo é que a proposta é ter o cidadão máximo, ou seja, que o governo influencie minimamente na vida do cidadão. É um contraponto ao modelo em vigor, no qual o governo se compromete a fazer quase tudo, mas não tem conseguido entregar serviços públicos satisfatórios. A busca de Amoêdo é pela eficiência na gestão. “A alternativa é dar mais poder para o Estado aumentar a carga tributária, porque o dinheiro que estamos entregando a ele não está atendendo as necessidades”, afirma. “Acreditamos que cada um é o melhor gestor de sua vida e o governo tem de atuar nas áreas essenciais, como educação básica, saúde e segurança.”
Mão pesada para quê? Amoedo diz que não faz sentido o Estado ter empresas de correios, de poços de petróleo ou do setor financeiro. “Realmente é partir para a privatização dessas companhias”, defende.
Por trás de todas as ideias econômicas de Amoêdo está o economista Gustavo Franco, um dos formuladores do Plano Real. Ele se filiou ao partido no início deste segundo semestre e passou a comandar a Fundação Novo, o think tank das ideias econômicas da sigla. Franco encontrou no partido a acolhida que não encontrava mais no PSDB, seja para desenvolver seus estudos e influenciar as decisões ligadas à economia, seja pela indignação com o fisiologismo demonstrado pelo tucanato no poder. Outra controvérsia é a dificuldade de o PSDB assumir ser a favor de suas posições históricas pró-Reforma do Estado.
“Acompanhei a ideia do Novo desde cedo, mas confesso que no início achei quixotesca, embora a tese fosse bastante interessante. Mas isso foi bem antes da desmoralização partidária que ocorreu e estamos vivendo”, diz Franco. “Mas o João, mesmo com as dificuldades, teve paciência para superar todos os obstáculos para a criação do partido. Ele anteviu que os partidos corrompidos gerariam um anseio por renovação e que a sociedade civil teria de entrar no jogo político.”
Em meados de novembro, Gustavo Franco publicou seu primeiro documento pelo Novo, com os princípios e valores que o partido deseja apresentar e debater na disputa eleitoral de 2018. São 11 medidas de como a política econômica deve ser conduzida, em caso de vitória nas urnas. Hoje, as chances são mínimas. A sigla terá poucos segundos do tempo de tevê e dificilmente estará nos grandes debates, a não ser que alcance pelo menos 5% das intenções de voto nas pesquisas eleitorais. Isso fará com que o Novo se enquadre nas regras de participação utilizadas pelas redes de televisão nas últimas disputas à presidência.
Mão pesada para quê? Amoedo diz que não faz sentido o Estado ter empresas de correios, de poços de petróleo ou do setor financeiro. “Realmente é partir para a privatização dessas companhias”, defende.
Por trás de todas as ideias econômicas de Amoêdo está o economista Gustavo Franco, um dos formuladores do Plano Real. Ele se filiou ao partido no início deste segundo semestre e passou a comandar a Fundação Novo, o think tank das ideias econômicas da sigla. Franco encontrou no partido a acolhida que não encontrava mais no PSDB, seja para desenvolver seus estudos e influenciar as decisões ligadas à economia, seja pela indignação com o fisiologismo demonstrado pelo tucanato no poder. Outra controvérsia é a dificuldade de o PSDB assumir ser a favor de suas posições históricas pró-Reforma do Estado.
“Acompanhei a ideia do Novo desde cedo, mas confesso que no início achei quixotesca, embora a tese fosse bastante interessante. Mas isso foi bem antes da desmoralização partidária que ocorreu e estamos vivendo”, diz Franco. “Mas o João, mesmo com as dificuldades, teve paciência para superar todos os obstáculos para a criação do partido. Ele anteviu que os partidos corrompidos gerariam um anseio por renovação e que a sociedade civil teria de entrar no jogo político.”
Em meados de novembro, Gustavo Franco publicou seu primeiro documento pelo Novo, com os princípios e valores que o partido deseja apresentar e debater na disputa eleitoral de 2018. São 11 medidas de como a política econômica deve ser conduzida, em caso de vitória nas urnas. Hoje, as chances são mínimas. A sigla terá poucos segundos do tempo de tevê e dificilmente estará nos grandes debates, a não ser que alcance pelo menos 5% das intenções de voto nas pesquisas eleitorais. Isso fará com que o Novo se enquadre nas regras de participação utilizadas pelas redes de televisão nas últimas disputas à presidência.
O cenário dependerá do resultado do julgamento, em segunda instância, do ex-presidente Lula, marcado para 24 de janeiro de 2018. O petista foi condenado pelo juiz Sérgio Moro por corrupção e lavagem de dinheiro. Mesmo assim, ainda lidera as pesquisas. Se a condenação for mantida pela Justiça, Lula pode ser impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa. Sem o principal nome na disputa ao Planalto, desconhecidos como João Amoêdo podem ganhar espaço.
“Sem o Lula, a perspectiva é ter uma eleição menos polarizada e mais dispersa, mais parecido com o que foi 1989. Vai se olhar para frente, com a possibilidade de outras candidaturas crescerem”, diz Fernando Schüler, cientista político do Insper. “O Partido Novo é uma alternativa liberal consistente, que enriquece a política brasileira, e o João Amoêdo agrega ao debate político. Tomara que consiga participar dos grandes debates.”
Amoêdo tem feito um trabalho pró-ativo na busca por outsiders para concorrer aos cargos executivos em 2018. Ele, por exemplo, não era a primeira opção do Novo para concorrer à Presidência. Amoêdo tentou, de todas as maneiras, convencer o apresentador de tevê, Luciano Huck, a ser o candidato pela sigla em 2018. Eles se conheceram no ano passado e deram início a trocas de mensagens sobre a situação política e as eleições municipais. Em abril deste ano, tiveram um encontro em Angra dos Reis, o que parecia um sinal de aproximação para confirmar a candidatura. Amoêdo, porém, diz que o objetivo sempre foi apresentar as ideias do Novo para Huck.
O apresentador do Caldeirão despontou nas pesquisas, mas depois afirmou que não vai concorrer ao Planalto. Agora, o principal objetivo de João Amoêdo é convencer Bernardinho, o treinador da seleção masculina de vôlei, que chegou às últimas quatro finais olímpicas, a disputar o governo do Estado do Rio de Janeiro. O treinador já admitiu essa possibilidade, mas ainda não bateu o martelo. “Estamos numa força grande. Nem tanto para ver se o Bernardinho se convence, porque ele está bastante animado, mas para ele vencer eventuais resistências”, afirma Amoêdo. “Uma coisa que tenho falado para ele é que temos sempre a preocupação de ir, mas não podemos esquecer da frustração de não ir. Já pensou ter essa oportunidade de arrumar o Rio, ser um exemplo para outros lugares, e ter ficado de fora da disputa?”
O pré-candidato do Novo à presidência tem um discurso sereno, tranquilo e dificilmente ergue o tom de voz. Gosta de convencer com bons argumentos e instigar o desafio. É dessa maneira que Amôedo tenta convencer executivos a mudarem o poder público. O empresário Salim Mattar, presidente do conselho de administração da Localiza, era o preferido para concorrer ao governo de Minas Gerais. Ele precisou dar razões claras para Amoêdo entender que, além de não estar preparado, ainda tinha importantes compromissos a cumprir na sua empresa. “O João disse que se eu concorresse seria eleito e, por isso, fico devendo essa para ele”, diz Mattar. “O mais importante é que o Novo não tem passado, tem proposta com clareza de objetivos. O João tem esse perfil de renovação. Ele tem muito a ver com o francês Emmanuel Macron, que veio do mercado financeiro e trazia a indignação com os rumos do país.”
A recusa de Mattar abriu espaço para Romeu Zema Neto, presidente do conselho de administração do Grupo Zema, que detém uma rede de lojas de eletroeletrônicos e atua na distribuição de combustíveis. Zema aceitou o desafio de entrar para a política, mas passou semanas em estado de perturbação. Ele se questionava se a decisão era por ilusão, vaidade ou loucura. “Não iria tolerar, daqui a 30 anos, saber que poderia ter feito algo e não fiz, para evitar que nos transformássemos numa Venezuela”, diz ele. Em quatro meses, desde que foi anunciado para a disputa ao governo mineiro, Zema mudou completamente de vida.
Passou a viajar 80% do tempo e acrescentou mais números na agenda telefônica do que nos últimos quatro anos. “Meu plano é visitar 500 cidades mineiras de carro”, diz ele. “Quero fazer a campanha mais barata e mais impactante.” Até agora, outros dois estados terão representantes do Novo nas disputas estaduais. Alexandre Guerra, herdeiro da rede de restaurantes Giraffas, vai concorrer no Distrito Federal. No Rio Grande do Sul, o escolhido foi Mateus Bandeira, o único que teve experiência no setor público. Ele foi secretário do Planejamento e presidente do Banrisul no governo de Yeda Crusius (PSDB). Ao deixar o governo, em 2011, foi presidir a consultoria de Vicente Falconi. Na semana passada, o empresário Rogério Chequer, criador do Movimento Vem pra Rua, anunciou sua filiação.
Os cargos executivos ficam mais nos holofotes, mas o principal objetivo do Novo em 2018 é conseguir eleger 35 deputados federais. Nas eleições municipais de 2016, quatro candidatos chegaram à Câmara. Uma das primeiras medidas dos vereadores do Novo foi enxugar a estrutura de gabinete. Em São Paulo, a vereadora Janaína Lima reduziu de 20 para seis assessores. Só com essa medida a economia para os cofres públicos é estimada em R$ 1 milhão por ano. “Usar 20% a 40% da verba de gabinete funciona muito bem. Não se perde eficiência nenhuma, ao contrário”, diz Amoêdo. O Novo também é contra o financiamento via fundo partidário e cobra uma mensalidade de menos de R$ 30 de seus filiados para sustentar sua estrutura.
A sigla recebeu no primeiro semestre R$ 1,7 milhão, parcela a que tem direito no rateio entre os partidos, mas o dinheiro fica depositado em um fundo de investimento para futura devolução. João Amoêdo sabe que é será muito difícil mudar uma estrutura viciada, mas ele aos poucos vai alcançando suas metas com a resiliência adquirida ao pedalar, nadar e correr nas seis provas de Ironman que completou.
De qual Lula você tem medo?
Qualquer cenário para a eleição de 2018 depende de Lula, o principal nome na disputa pela presidência da República. Ele, porém, é quem causa mais temor no mercado financeiro e nos empresários. Mas de qual Lula eles têm medo? Até a crise financeira global de 2008, Lula adotava um viés mais liberal. O Banco Central, sob o comando de Henrique Meirelles, tinha liberdade de atuação para manter a inflação sob controle e a taxa juros em queda. As contas públicas, se não estavam totalmente sanadas, apresentavam trajetória mais sustentável. A dívida bruta, por exemplo, caiu de 74% do PIB em 2003 para 63%, em 2010. Era um Lula pró-mercado, que se beneficiava, também, do boom das commodities no mercado internacional. A crise de 2008 é o ponto de inflexão. O governo Lula fez o que era certo: adotou uma medida anticíclica, com forte atuação dos bancos públicos. Mas a equipe econômica, liderada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, gostou tanto do veneno que resolveu exagerar na dose. A partir de 2011, com Dilma Rousseff no Planalto, teve início um governo intervencionista, onde o Estado não dava espaço para a iniciativa privada atuar. O presidente do BC, Alexandre Tombini, seguia os interesses do Executivo e a inflação passou a ficar sempre próxima ao teto da meta. Dilma criou um País artificial e Mantega inventou a Nova Matriz Econômica, que conseguiu desandar com a economia e fazer o Brasil mergulhar na mais profunda crise de sua história.
Em paralelo às cabeçadas na área econômica, a Operação Lava Jato revelou o círculo vicioso da corrupção, onde o PT era, novamente, o protagonista. O Mensalão, denunciado no governo Lula, foi ampliado e aperfeiçoado. Em 13 anos da sigla no comando do País, o segundo grande escândalo. A partir daí, teve início um discurso raivoso de Dilma, que se dizia vítima de um complô. Mas a ex-presidente era apenas a casca da laranja, que ecoava as palavras de Lula. Este tem preferido um discurso vingativo e demonstra apego à mão pesada do estado na economia. É esse Lula, intervencionista e populista, quem mais assusta o mercado para as eleições de 2018.
“Com a crise, as pessoas entenderam que não dá para delegar a política no Brasil e ficar totalmente ausente das discussões”
Confira os principais trechos da entrevista com João Amoêdo, pré-candidato do Partido Novo à Presidência:
Qual é a sua avaliação sobre o nosso momento econômico?
Do ponto de vista econômico, a gestão do governo Temer tem sido boa, com algumas medidas interessantes. Eles aprovaram a PEC do teto dos gastos, a reforma trabalhista e estão tentando passar a reforma da previdência. A inflação, com a ajuda da recessão, também foi controlada e a taxa de juros caiu. Outra medida importante foi a equalização da taxa de juros de longo prazo com a Selic, pois aquilo era uma distribuição grande para grandes empresas e dos mais pobres para os mais ricos.
Mas as reformas ficaram distantes das necessidades do País, não?
Entendo que se não fizermos algumas reformas estruturais, isso não é muito sustentável ou o próprio crescimento do PIB vai nos colocar de volta na mesma dinâmica antiga. Se não tiver as contas públicas equilibradas, na hora em que a atividade começar a ganhar fôlego, a inflação vai voltar e consequentemente o Banco Central terá de aumentar os juros. É quase como se o Brasil tivesse um teto de 1,5% a 2% para crescer, por conta do ambiente estrutural. Para sermos um país que realmente aumenta a renda per capta de forma consistente tem de fazer as reformas estruturais. Se não, vai aliviar um pouco a vida, mas o desenho será o mesmo, com muita gente na pobreza, sem consumir e refém de programas assistencialistas. Não é o que gostaríamos para o País, por isso essas reformas terão de ser feitas num próximo governo.
Qual é a sua agenda econômica?
A primeira coisa é a responsabilidade fiscal. O Estado tem de estar com suas contas equilibradas para termos uma taxa de juros mais baixa. O fato de o Estado não ter de se financiar tanto e poder reduzir a taxa de juros tem um impacto tão grande na economia para quem quer empreender e criar riqueza para o País que é fundamental para o investimento de longo prazo. Esse é um item bastante importante, que cria um ambiente mais propício ao empreendedorismo. O segundo ponto está ligado à redução do Estado em áreas que ele não deveria estar. Por exemplo, na gestão das empresas.
Privatizar as empresas ou transformá-las em companhias de capital misto, como Eletrobras e Petrobras?
É preciso pensar bem no modelo, para que possamos passar o controle dentro de um desenho que haja concorrência e não fazer uma transferência de um monopólio público para privado. Mas, de fato, tirar do governo e passar para a iniciativa privada, com um modelo e preço adequados. E fazer de fato de uma forma rápida e definitiva.
Sua agenda é reformista. Por mais simples que seja falar sobre a necessidade delas, são todas difíceis de fazer, não são?
A agenda é reformista, de redução do Estado via privatização, de equilíbrio das contas públicas e de reforma tributária. São ações difíceis, mas tem de fazer, porque o aumento da produtividade é fundamental para o País. O trabalhador brasileiro tem uma produtividade baixíssima e isso, consequentemente, impacta na remuneração das pessoas. Tem de fazer alguns programas, desde a educação básica e o ensino profissionalizante. É preciso sair dessa armadilha de não ter produtividade. E, dentro dessas medidas econômicas, é ter uma maior abertura comercial. O Brasil é um país muito fechado e, como cidadãos, a gente paga duas vezes: a carga tributária elevadíssima e o produto de alto custo, que é, às vezes, de qualidade duvidosa porque o mercado está fechado para a competição.Os críticos resumem o Novo como o partido do Estado Mínimo.Tudo o que estamos falando, de redução do Estado, privatização, é meio. O mais importante é falar para a população do fim. Um Estado deveria ser seguro, para as pessoas terem a garantia de suas vidas e das suas propriedades. E ser um ambiente propício onde os relacionamentos funcionem e onde os contratos sejam devidamente cumpridos. O Estado brasileiro deveria ser mais simples, pois há muita burocracia, com muitas leis inúteis. Outro ponto é um Estado realmente livre, para que as pessoas tenham autonomia e sejam protagonistas das suas vidas e tenham todas as oportunidades, com educação básica, para se desenvolver, empreender e trabalhar. O que queremos é um modelo de Estado que atue nas áreas essenciais, como educação básica, saúde e segurança, sem necessariamente precisar fazer a gestão disso tudo. Deveríamos ter um Estado que não dê privilégios nem benefícios a determinados grupos. Tudo o que o Estado tem, ele tirou do cidadão, seja dos seus recursos, seja da sua liberdade. Cidadão e Estado tem de ser um jogo de soma zero. O que estamos dizendo é que acreditamos que cada um é melhor gestor de suas vidas do que o Estado.
Por que executivos e empresários passaram a se interessar mais pela vida pública?
Infelizmente, no Brasil, o Estado tem uma participação tão relevante que acaba influenciando na nossa vida, como pessoa física, trabalhador ou empreendedor. Até 2010, o Brasil crescia 7,5%, o Lula tinha uma popularidade enorme, tanto que elegeu a Dilma, e a revista The Economist mostrava o Cristo Redentor decolando. As pessoas estavam cuidando de suas empresas, fazendo aberturas de capital, todo mundo estava ganhando dinheiro e dizendo que esse negócio de política não era para eles. Mas, com a crise, as pessoas entenderam que não dá para delegar a política no Brasil e ficar totalmente ausente das discussões. No lado empresarial, os formadores de opinião ficaram omissos. Só uma pequena parte atuou, mas era muito mais preocupada em trazer benefícios para o seu próprio negócio e para a agenda pessoal. Uma parcela raríssima tentou fazer alguma coisa. Agora, eles acordaram, mesmo os que estavam defendendo seus interesses específicos, e entenderam que esse modelo não é sustentável. Mas não tem atalho. Não adianta acordar e achar que vai resolver o problema pelo caminho mais curto, pela forma tradicional. Para nós, não basta ter só um nome novo na política. É preciso ter postura e atitude novas.
O sr. está otimista com a eleição de 2018?
As mídias sociais vão ter um peso relevante. Vimos um pouco isso na pequena experiência que o Novo teve nas eleições municipais de 2016, com uma conscientização e uma participação muito maior das pessoas, procurando, de fato, conhecer as informações e sendo muito críticos. Mas aí tem de ter cuidado para filtrar o que é informação verdadeira e o que é boato. Em função desse cenário, colocamos como meta eleger 35 deputados federais. É uma sinalização clara que estamos otimistas, num processo em que não seria razoável um partido que está começando alcançar esse número. Mas está tudo aberto em relação à Presidência. O principal candidato [o ex-presidente Lula] pode eventualmente estar preso ou fora do páreo. O segundo nas pesquisas, o [deputado Jair] Bolsonaro, aproveita-se do próprio fato de existir o Lula, pois cria a polarização. Esse cenário pode mudar porque muitos não sabem em quem vão votar. Está tudo aberto e tem espaço para um projeto como o do Novo crescer. Óbvio que é um desafio grande. Somos um partido pouco conhecido, eu não sou uma figura conhecida e mesmo os deputados não serão figuras conhecidas. Por outro lado, o fato também de não ser conhecido nessa busca por renovação pode nos ajudar.
Há alguns dias, o deputado Tiririca anunciou que sairá da política. O que o sr. pensa da avaliação feita por ele?
Ninguém o colocou lá para construir alguma coisa. Então, não é surpresa ele ter passado sete anos sem aparecer. Existem vários significados. O primeiro é aquele discurso de quando ele entrou: pior do que está, não fica. Sim, piorou desde aquela época e continua piorando. Segundo, ele bateu bastante na tecla da dissociação dos políticos encastelados em Brasília com o mundo real. A realidade brasileira é muito diferente da dos privilégios que existem lá. Eles ficam imunes, não dão exemplo, mesmo com a crise e os pedidos para o brasileiro se sacrificar. O bom é que é mais uma chacoalhada nas pessoas. Até esse sujeito, que foi para lá como um voto de protesto, não conseguiu fazer coisa alguma.
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