Agentes cumpriram mandados de busca e apreensão na casa dos secretários Eloy de Oliveira, Hudson Zuliani, Werinton Kermes, na dos empresários Felipe Bismara e Antônio Bocalão Neto e também no Paço Municipal.
Por G1 Sorocaba e Jundiaí e TV TEM
A Polícia Civil e o Ministério Público deflagraram, na manhã desta segunda-feira (8), uma operação que investiga desvio de dinheiro, fraudes em licitações e corrupção de agentes públicos na Prefeitura de Sorocaba (SP). Foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão.
Policiais apreenderam documentos na Prefeitura de Sorocaba durante a opreação "Casa de Papel" — Foto: Luis Carlos Xirú/TV TEM |
De acordo com a polícia, a operação tem o objetivo de desarticular uma "organização criminosa que estaria atuando na prefeitura".
Segundo as investigações, o grupo criminoso é formado por secretários municipais, servidores públicos e empresários. A gama de crimes cometidos vai desde contratos superfaturados até serviços contratados e não prestados.
Além de apurar o desvio de dinheiro público, também será investigado o crime de lavagem do dinheiro desviado dos cofres públicos.
A operação foi batizada de Casa de Papel, em referência à série que conta a história de um grupo de ladrões que executa um assalto cinematográfico à Casa da Moeda da Espanha.
Suspeitos investigados:
- Werinton Kermes, secretário de Cultura e Turismo
- Eloy de Oliveira, secretário de Comunicação e Eventos
- Hudson Zuliani, secretário de Licitações e Contratos
- Felipe Bismara, empresário, proprietário da empresa Selt - antiga Twenty
- Jaqueline Helena da Silva Bismara, mulher de Felipe
- Antônio Tadeu Bismara, irmão de Felipe
- Antônio Bocalão Neto, proprietário do jornal Gazeta do Interior
- Bianca Stefane Munis de Figueredo, mulher de Bocalão Neto
- Edmilson Chelles, funcionário de carreira na prefeitura
Seis meses de investigação
Segundo a polícia, o inquérito que apura as possíveis irregularidades teve início há seis meses e foi instaurado pelo Setor Especializado de Combate à Corrupção, Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro da Delegacia de Polícia Seccional de Sorocaba.
O cumprimento dos mandados de busca teve a participação do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco), promotores de Justiça, delegados de polícia, agentes do Setor de Inteligência da Polícia Civil e do Tribunal de Contas do Estado.
Além dos mandados de busca e apreensão, a polícia também pediu o bloqueio de bens imóveis e veículos dos suspeitos investigados.
Mandados de busca e apreensão
A operação Casa de Papel cumpriu 18 mandados de busca e apreensão nas casas dos secretários municipais Eloy de Oliveira (Comunicação e Eventos), Hudson Zuliani (Licitações e Contratos) e Werinton Kermes (Cultura e Turismo).
Também foram cumpridos mandados na casa do empresário Felipe Bismara, dono da empresa Selt - Serviços Estruturas Locações Temporárias, que era registrada como Twenty Estruturas e Eventos. A empresa atua em uma vasta área comercial, que vai desde o fornecimento de alimentação, locações e estrutura para eventos e até construção de edifícios. O empresário já venceu diversas licitações da Prefeitura de Sorocaba, incluindo a do carnaval deste ano.
Em um dos imóveis do empresário os policiais apreenderam diversas armas e munições. Por conta disso, ele foi preso em flagrante. Segundo o delegado seccional, Marcelo Carriel, Felipe possui registro do Exército, mas parte da munição encontrada não estava no lugar autorizado. Ele foi liberado após pagar fiança de R$ 10 mil e deve passar por audiência de custódia nesta terça-feira (9).
Uma equipe da polícia também foi até a sede da Selt/Twenty para apreender documentos.
A polícia ainda cumpriu mandados nas casas do irmão de Felipe, Antônio Tadeu Bismara Filho, e de Antônio Bocalão Neto, proprietário do jornal Gazeta do Interior.
Já no Paço Municipal os agentes cumpriram mandados em três secretarias, que foram lacradas: Licitações e Contratos, Comunicação e Eventos e Fazenda. A Secretaria de Cultura, que fica no centro da cidade, também foi alvo da operação.
Movimentação na madrugada
A movimentação de agentes da Polícia Civil, Gaeco e Ministério Público começou ainda de madrugada.
Antes das 5h já havia grande concentração de policiais no 3º DP, de acordo com o registro feito por internautas e enviados à redação.
Às 6h o comboio de policiais e promotores chegou ao Paço Municipal. Eles se dirigiram às secretarias investigadas para cumprir os mandados de busca e apreensão.
Servidores desligados
Policiais pediram o desligamento dos servidores de internet da prefeitura para evitar que os dados sejam acessados - e apagados - por computadores fora da prefeitura.
A medida foi tomada depois que os agentes constataram tentativas de mudanças da senha no sistema municipal.
Como consequência, todos os serviços online da prefeitura ficaram fora do ar, incluindo o site da prefeitura e todos os outros que ficam sob o mesmo domínio.
Comissão especial
O presidente da Câmara de Sorocaba, Fernando Dini (MDB), e outros oito vereadores se reuniram no fim da manhã desta segunda-feira para discutir a criação de uma comissão especial para acompanhar a operação.
Outra reunião será feita durante a tarde e contará com todos os vereadores. Segundo Dini, a intenção é que todos os partidos na Câmara - 11 ao todo - sejam representados nessa comissão especial. Ainda conforme o presidente da casa legislativa, a comissão pode virar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), caso haja indícios de irregularidades.
O que dizem os investigados
- Secretários Eloy de Oliveira, Hudson Zuliani e Werinton Kermes:
Os três disseram desconhecer quaisquer irregularidades.
- Felipe Bismara, Jaqueline Helena da Silva Bismara e Antônio Tadeu Bismara:
O advogado Antônio Tadeu Bismara, irmão de Felipe, afirmou que o empresário se desligou da Selt/Twenty há um mês e atualmente está desempregado.
"Que é do meu conhecimento o único erro do Felipe foi ser muito bom no que faz. Ele está pagando preço por ser muito bom no que faz. Ele é um excelente empresário que lida com licitações e ganhava bastante licitações, tudo dentro dos trâmites legais", afirma.
Sobre as armas e munições encontradas na casa do empresário, Tadeu afirmou que o irmão participou de um torneio desportivo no fim de semana e "por um lapso" guardou as sobras de munição em um local que não era permitido, e por isso o empresário foi detido, mas foi liberado após pagar fiança.
Sobre o mandado de busca e apreensão que a polícia cumpriu em sua casa, o advogado afirmou que colaborou com os policiais porque não tem "nada a esconder", e que ainda não teve acesso a todo o inquérito para poder se posicionar.
- Antônio Bocalão Neto e sua mulher, Bianca Stefane Munis de Figueredo
Antônio entrou em contato com a TV TEM pelo telefone para dizer que o único contato que teve com a prefeitura foi uma inserção publicitária de 90 dias em oito edições do jornal impresso, entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019. Ele recebeu R$ 13,6 mil pelas inserções, mas só chegaram R$ 6,5 mil para o jornal, descontando os impostos e o preço pago à agência publicitária.
Disse também que nunca participou de nenhum contrato ou licitação com a prefeitura e que, inclusive, estava sem nenhuma relação com a prefeitura desde março, após a publicação de uma notícia sobre Tatiane Polis. Em retaliação, a prefeitura teria cortado o patrocínio, segundo Bocalão.
Por fim, explicou que tem toda a documentação possível para exercer as funções jornalísticas e que não teme as investigações, pois não cometeu nenhuma irregularidade.
- Edmilson Chelles
A reportagem ainda não conseguiu encontrar em contato com ele.
Em nota, a Prefeitura de Sorocaba esclareceu que a operação acontece em caráter de investigação. A administração municipal disse que preza pela transparência em todos os seus processos e serviços e que está colaborando com todas as informações solicitadas pelos órgãos investigativos.
Além disso, ressaltou que todos os serviços públicos voltados à população foram restabelecidos e estão funcionando normalmente.
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