GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília
No primeiro discurso no plenário da Câmara dos Deputados depois de tomar posse, o deputado Clodovil Hernandez (PTC-SP) conseguiu calar os parlamentares presentes à sessão na tarde desta terça-feira após ironizar o barulho provocado pelos colegas.
Visivelmente irritado com as conversas paralelas no plenário, Clodovil comparou a Câmara a um "mercado" popular. "Eu não sei o que é decoro [parlamentar] com um barulho desses enquanto a gente fala. Parece um mercado e isso aqui é a Casa do povo. Não entendo tanto barulho. Nem na TV, que é popular, as pessoas fazem isso", criticou.
A "bronca" nos deputados ocorreu depois de discursar por cerca de dez minutos no plenário. Sem conseguir a atenção dos colegas, o deputado reagiu atingindo o seu objetivo: os mais de 350 deputados presentes na sessão fizeram silêncio para acompanhar as palavras de Clodovil.
No discurso, o deputado pregou o amor e a bondade como ferramentas capazes de melhorar a atuação da Câmara. "Se eu amo a Deus, não tenho medo. O que quero é amar vocês. (...) Defendo a bondade em cada ato desta Casa, porque sei, por experiência própria, que a bondade cura mais do que qualquer remédio", afirmou.
Segundo Clodovil, a bondade é um sentimento capaz de "dar uma nova chance" a qualquer pessoa --inclusive a quem cometeu "os sete pecados capitais". O deputado conclamou os colegas a superarem a avareza, a soberba, a preguiça e a inveja para que consigam efetivamente trabalhar pelo país. "É disso que o Congresso brasileiro precisa, de uma nova chance, de um novo olhar", afirmou.
Bordão
Clodovil admitiu, ao discursar para os deputados, que "em nenhum momento" desejou se tornar deputado federal. "Após ter construído uma carreira sólida e de sucesso como estilista e comunicador, chego aos 70 anos dando uma dessas guinadas inesperadas", disse.
Os deputados Luiza Erundina (PSB-SP) e Paulo Maluf (PP-SP) interromperam o discurso de Clodovil para elogiar a expressiva votação do deputado --que chegou à Câmara com cerca de 494 mil votos.
"Não posso deixar de me congratular com Vossa Excelência, que diz por fora o que está pensando por dentro. Vossa Excelência vai ser um dos mais ativos, polêmicos e respeitados deputados desta Casa", disse Maluf.
A deputada Gorete Pereira (PR-CE) também interrompeu o discurso de Clodovil para elogiar o colega e, ao final de sua intervenção, o deputado afirmou: "Me desculpe, mas eu não sei o nome da senhora".
Já o líder do PTC na Câmara, Carlos William (MG), disse que Clodovil tem o dever de expressar os seus sentimentos no plenário, sem censuras. "O que assistimos até agora não atingiu nem a honra nem a imagem deste Parlamento', disse William.
O deputado finalizou o discurso com o bordão que marcou sua campanha à Câmara Federal. "Tenho certeza de que ao praticarmos a política com bondade, Brasília nunca mais será a mesma, nem o Brasil."
Clodovil silencia plenário ao reclamar do barulho e diz querer amar deputados
fevereiro 24, 2007
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É triste ver que o lugar onde supomos que as pessoas tratem de assuntos importantes, seja um pardieiro, onde ninguém ouve ninguém. Além de o palestrante não conseguir, sequer, ouvir o próprio pensamento por causa da balbúrdia provocada pelos demais deputados que não se interessam por nada, além dos próprios bolsos, vemos palestrantes falando para... as cadeiras. Realmente, o Congresso é uma piada de mau gosto.
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