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Caixinha para compra de liminar

Organização criou esquema de cobrança de R$ 300 mil para bingos e donos de máquinas caça-níqueis

Adriana Cruz e Mario Hugo Monken
O Dia

Rio - Para financiar esquema de corrupção e ganhar liminares na Justiça que mantivessem os bingos funcionando, a organização criminosa alvo da Operação Furacão criou taxas de arrecadação batizadas de ‘caixinhas’, ‘cestinhas’ e ‘pedágios’. Gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal mostram que no Rio os donos de bingos e de máquinas caça-níqueis teriam que pagar propina de R$ 150 mil, cada.

No Rio há pelo menos 41 bingos. Se todos contribuissem com R$ 150 mil, a quadrilha arrecadaria R$ 6, 1 milhões, somente com as casas. Nas conversas, não é revelada a periodicidade das contribuições. A mesma forma de arrecadação ocorre em São Paulo e em Santa Catarina, onde as cotas variam de R$ 100 mil a R$ 250 mil. Até agora, 28 pessoas entre magistrados, bicheiros, advogados, empresários e policiais são acusados de envolvimento nos crimes.

No Rio, quem se recusava a pagar a ‘caixinha’ era punido. Gravações telefônicas feitas em dezembro revelaram que o Bingo Saens Peña sofreu represálias. Naquele período, o bingo ficou fechado. A situação do Saens Peña foi comentada numa conversa do advogado Sérgio Luzio Marques Araújo, um dos presos, com outro advogado sob investigação. A tarefa de recolher o dinheiro da ‘caixinha’ ficava com os advogados contratados pela Associação de Bingos do Estado do Rio de Janeiro (Aberj). O grupo ainda tentava convencer o maior número possível de empresários de bingos a entrar com ações na Justiça para ganhar mais dinheiro em comissões.

As escutas revelam como era dividida a ‘caixinha’ a cada R$ 300 mil arrecadados — levando-se em consideração que havia cota de máquinas e do bingo. Em novembro, conversa gravada entre Paulo Roberto Ferreira Lino, da Aberj, já preso, com um suposto dono do Bingo Icaraí, ele disse que R$ 150 mil de uma das cotas iriam para o grupo, supostamente da associação. Em outro diálogo, desta vez entre Sérgio Luzio e um delegado federal aposentado que atua como advogado, eles falam como seria a divisão de outros R$ 150 mil: R$ 70 mil destinados à Justiça (desembargador ou juiz); R$ 50 mil ao advogado da ação e R$ 30 mil para o restante da quadrilha e a criação de empresas. As conversas não revelam o valor recolhido. Um desembargador e um juiz são citados, mas não foram presos.

A Furacão apura a venda de liminares em favor dos bingos. Uma delas foi concedida pelo ministro Paulo Medina, do Superior Tribunal de Justiça, liberando 900 máquinas. Segundo a PF, a liminar fora negociada pelo irmão do ministro, o advogado Virgílio Medina, preso, por R$ 1 milhão. O pedido de prisão do ministro foi rejeitado pelo Supremo Tribunal Federal.

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