Ana Amélia Lemos
Casa Civil
Gleisi Hoffmann
Imposto de Renda
Ivo Cassol
jeton
Lindberg Farias
ministro
PP
PT
Receita Federal
salário
Senado
senador
Fim dos salários extras vira assunto de plenário
Comissão aprova por unanimidade o projeto que derruba o 14º e o 15º de parlamentares. A proposta passará agora pela análise dos 81 senadores em cerca de um mês, para depois seguir à Câmara dos Deputados
JOÃO VALADARES - Correio Braziliense
Quase ninguém acreditava, mas os senadores, pressionados pela opinião pública, deram, na manhã de ontem, o primeiro passo para acabar com a regalia histórica do 14º e do 15º salários. Mais de um ano depois de o projeto que determina o fim da mordomia ser apresentado no Senado, os 27 integrantes da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovaram a matéria por unanimidade.
Utilizaram o argumento da isonomia e, sobretudo, da economia gerada pelo corte dos extras, para atacar uma benesse que permanecia intocável desde a Constituição de 1946. Em nome do exemplo de austeridade a ser dado ao Brasil, mesmo com atraso de mais de meio século, os senadores prometeram trabalhar para levar a matéria ao plenário o mais rápido possível. A expectativa é de que, em até 15 dias, a proposta seja apreciada pelos 81 parlamentares da Casa. O prazo considerado razoável é de um mês. Antes, como é de praxe, passa pela Comissão da Mesa Diretora.
Colocado como o primeiro ponto a ser votado, os senadores aprovaram a inversão da pauta e a proposta só foi apreciada no fim da reunião deliberativa. O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) chegou a questionar se o projeto da então senadora e atual chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, seria mesmo votado. Na semana passada, um pedido de vista do senador Ivo Cassol (PP-RO) adiou a votação por uma semana. Ontem, em virtude do adiantar da hora, houve rumores de que, novamente, a extinção dos extras seria empurrada para a próxima semana.
Quando o debate foi iniciado, ao meio-dia em ponto, 11 senadores fizeram questão de pedir a palavra para falar publicamente sobre o assunto considerado polêmico. Era visível a necessidade de se posicionar favoravelmente diante da opinião pública. No primeiro levantamento realizado pelo Correio com os integrantes da comissão, a maioria fugiu do tema. Com a crescente pressão da sociedade, motivada pela instauração de procedimento investigatório por parte da Receita Federal após denúncia de que os senadores não pagavam Imposto de Renda, o placar mudou e a maioria garantiu apoiar a extinção do “presentinho oficial”.
Pressão popular
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), relator da matéria, acredita que, após a aprovação unânime na CAE, a tramitação será rápida: “Tudo depende da pressão da imprensa e da opinião pública. A votação de hoje (ontem) é o maior exemplo disso”. Ele declarou que havia um clima ruim na Casa em relação ao projeto. “Algumas pessoas não queriam colocá-lo em votação. Mas, hoje, não apareceu ninguém. Era uma pressão oculta. A velocidade de tramitação depende de vocês da imprensa. Não existe nenhum argumento lógico para defender o recebimento de 14º e 15º salários. Como explicar isso para um trabalhador?”, questionou.
Como o projeto não é terminativo, a votação não foi nominal. No momento em que o presidente da CAE, senador Delcídio Amaral (PT-MS), determinou que, quem concordasse com o fim da regalia permanecesse como estava, ninguém levantou a mão para discordar. Alguns demonstraram insatisfação com a denominação “14º e 15º salários”.
O senador Ivo Cassol (PP-RO), por exemplo, que tinha dito que “político no Brasil é muito mal remunerado”, não apareceu, mas encaminhou voto favorável ao projeto por escrito à comissão. No voto, o senador solicitou que fosse suprimido da proposta a expressão 14º e 15º salários. Para ele, as duas parcelas são ajudas de custo.
Hoje, os senadores e deputados recebem duas parcelas no mesmo valor do salário (R$ 26,7 mil) em fevereiro e dezembro. Com a aprovação da proposta, os parlamentares passam a ganhar apenas uma ajuda de custo no início e outra no fim do mandato. “Quando foi criado, o procedimento se justificava porque os parlamentares se mudavam para o Rio com suas famílias e passavam todo o ano lá. Hoje, voltamos todas as semanas para os nossos estados”, explicou Lindbergh Farias (PT-RJ).
Jetons do Executivo na mira
Durante a sessão, a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) pegou de surpresa o relator do projeto, Lindbergh Farias (PT-RJ), ao solicitar uma emenda acrescentando que o corte de regalias fosse ampliado também para o Executivo. A parlamentar pediu que fosse acrescentado a extinção dos chamados “jetons” para que ministros não engordassem os salários quando assumissem conselhos de empresas estatais — prática corriqueira. O senador carioca disse que não acataria. “É necessário a apresentação de um novo projeto”, tergiversou. Na saída da sessão, a senadora garantiu que apresentaria a proposta no Senado.
Na reunião, muitos que nunca tinham se posicionado resolveram falar. O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), mesmo não sendo integrante da CAE e de nunca ter opinado sobre o assunto, foi à sessão. O senador Valdir Raupp (PMDB-RO), sentado ao lado de Renan, fez questão de salientar que a bancada inteira do partido era contra a regalia. “Estou aqui ao lado do líder Renan e digo que o PMDB concorda com o projeto. Já temos verbas indenizatórias e passagens para irmos aos nossos estados de origem.”
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), falou em nome do partido. “Quero salientar que, em 1995, essas duas parcelas a mais foram aprovadas com argumentos que resistem até hoje. No entanto, entendemos que o Senado tem que ser exemplo. Por isso, sou a favor.” (JV)
JOÃO VALADARES - Correio Braziliense
Quase ninguém acreditava, mas os senadores, pressionados pela opinião pública, deram, na manhã de ontem, o primeiro passo para acabar com a regalia histórica do 14º e do 15º salários. Mais de um ano depois de o projeto que determina o fim da mordomia ser apresentado no Senado, os 27 integrantes da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovaram a matéria por unanimidade.
Utilizaram o argumento da isonomia e, sobretudo, da economia gerada pelo corte dos extras, para atacar uma benesse que permanecia intocável desde a Constituição de 1946. Em nome do exemplo de austeridade a ser dado ao Brasil, mesmo com atraso de mais de meio século, os senadores prometeram trabalhar para levar a matéria ao plenário o mais rápido possível. A expectativa é de que, em até 15 dias, a proposta seja apreciada pelos 81 parlamentares da Casa. O prazo considerado razoável é de um mês. Antes, como é de praxe, passa pela Comissão da Mesa Diretora.
Colocado como o primeiro ponto a ser votado, os senadores aprovaram a inversão da pauta e a proposta só foi apreciada no fim da reunião deliberativa. O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) chegou a questionar se o projeto da então senadora e atual chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, seria mesmo votado. Na semana passada, um pedido de vista do senador Ivo Cassol (PP-RO) adiou a votação por uma semana. Ontem, em virtude do adiantar da hora, houve rumores de que, novamente, a extinção dos extras seria empurrada para a próxima semana.
Quando o debate foi iniciado, ao meio-dia em ponto, 11 senadores fizeram questão de pedir a palavra para falar publicamente sobre o assunto considerado polêmico. Era visível a necessidade de se posicionar favoravelmente diante da opinião pública. No primeiro levantamento realizado pelo Correio com os integrantes da comissão, a maioria fugiu do tema. Com a crescente pressão da sociedade, motivada pela instauração de procedimento investigatório por parte da Receita Federal após denúncia de que os senadores não pagavam Imposto de Renda, o placar mudou e a maioria garantiu apoiar a extinção do “presentinho oficial”.
Pressão popular
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ), relator da matéria, acredita que, após a aprovação unânime na CAE, a tramitação será rápida: “Tudo depende da pressão da imprensa e da opinião pública. A votação de hoje (ontem) é o maior exemplo disso”. Ele declarou que havia um clima ruim na Casa em relação ao projeto. “Algumas pessoas não queriam colocá-lo em votação. Mas, hoje, não apareceu ninguém. Era uma pressão oculta. A velocidade de tramitação depende de vocês da imprensa. Não existe nenhum argumento lógico para defender o recebimento de 14º e 15º salários. Como explicar isso para um trabalhador?”, questionou.
Como o projeto não é terminativo, a votação não foi nominal. No momento em que o presidente da CAE, senador Delcídio Amaral (PT-MS), determinou que, quem concordasse com o fim da regalia permanecesse como estava, ninguém levantou a mão para discordar. Alguns demonstraram insatisfação com a denominação “14º e 15º salários”.
O senador Ivo Cassol (PP-RO), por exemplo, que tinha dito que “político no Brasil é muito mal remunerado”, não apareceu, mas encaminhou voto favorável ao projeto por escrito à comissão. No voto, o senador solicitou que fosse suprimido da proposta a expressão 14º e 15º salários. Para ele, as duas parcelas são ajudas de custo.
Hoje, os senadores e deputados recebem duas parcelas no mesmo valor do salário (R$ 26,7 mil) em fevereiro e dezembro. Com a aprovação da proposta, os parlamentares passam a ganhar apenas uma ajuda de custo no início e outra no fim do mandato. “Quando foi criado, o procedimento se justificava porque os parlamentares se mudavam para o Rio com suas famílias e passavam todo o ano lá. Hoje, voltamos todas as semanas para os nossos estados”, explicou Lindbergh Farias (PT-RJ).
Jetons do Executivo na mira
Durante a sessão, a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) pegou de surpresa o relator do projeto, Lindbergh Farias (PT-RJ), ao solicitar uma emenda acrescentando que o corte de regalias fosse ampliado também para o Executivo. A parlamentar pediu que fosse acrescentado a extinção dos chamados “jetons” para que ministros não engordassem os salários quando assumissem conselhos de empresas estatais — prática corriqueira. O senador carioca disse que não acataria. “É necessário a apresentação de um novo projeto”, tergiversou. Na saída da sessão, a senadora garantiu que apresentaria a proposta no Senado.
Na reunião, muitos que nunca tinham se posicionado resolveram falar. O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), mesmo não sendo integrante da CAE e de nunca ter opinado sobre o assunto, foi à sessão. O senador Valdir Raupp (PMDB-RO), sentado ao lado de Renan, fez questão de salientar que a bancada inteira do partido era contra a regalia. “Estou aqui ao lado do líder Renan e digo que o PMDB concorda com o projeto. Já temos verbas indenizatórias e passagens para irmos aos nossos estados de origem.”
O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), falou em nome do partido. “Quero salientar que, em 1995, essas duas parcelas a mais foram aprovadas com argumentos que resistem até hoje. No entanto, entendemos que o Senado tem que ser exemplo. Por isso, sou a favor.” (JV)
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