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Dois irmãos emparedados

Entidade que apura desvios no Ministério Público inicia hoje reuniões para avaliar denúncias da interferência de Demóstenes no MP goiano, comandado por outro Torres, o procurador Benedito

Júnia Gama – Correio Braziliense

O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) se reúne hoje em Brasília para discutir o teor das interceptações telefônicas reveladas neste fim de semana pelo Correio, em que o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) garante ao bicheiro Carlinhos Cachoeira a interferência em assuntos internos do Ministério Público de Goiás. A ingerência no órgão seria feita por intermédio de seu irmão, o procurador-geral de Justiça do estado Benedito Torres. Os 14 conselheiros tomaram conhecimento das reportagens e começaram a se comunicar, ontem, para agendar as reuniões desta segunda-feira, em que o tema será tratado. Amanhã, na primeira sessão plenária do órgão após a publicação das gravações, os membros do CNMP darão um “encaminhamento” ao caso. “A gente vai ter que se manifestar em algum momento sobre isso”, aponta a conselheira Taís Ferraz.

Segundo a assessoria do órgão, oficialmente, nenhuma representação chegou ao conselho para provocar a abertura de processo. No entanto, os conselheiros avaliam que o assunto “diz respeito ao Ministério Público” e “merece um posicionamento do conselho”, já que envolve os nomes de dois membros da instituição — o senador Demóstenes, que é procurador licenciado, e seu irmão, que está na ativa, comandando o MP goiano. Em ao menos duas ocasiões anteriores, o CNMP adotou providências como afastamento ou aposentadoria compulsória de membros da entidade envolvidos em denúncias .

Na esfera local, o Ministério Público continua rachado. Enquanto a assessoria do órgão mantém nota em que rechaça a citação do nome de Benedito Torres nas conversas entre Demóstenes e Cachoeira, a procuradora de Justiça do MP goiano Ivana Farina insiste que, esta semana, a instituição precisa mobilizar seus órgãos de controle para investigar o conteúdo das interceptações. “Vamos colocar essa situação, que deve ser apurada e avaliada, em debate nos órgãos colegiados. Desde 2000 que o MP vem investigando a organização criminosa comandada pelo Cachoeira”, reforça.

“Irresponsabilidade”

Ontem, Benedito Torres afirmou, em entrevista ao jornal O Popular, que seu irmão não estava autorizado a usar seu nome nas conversas com Cachoeira, o que teria sido “um ato de irresponsabilidade do senador Demóstenes”. O procurador-geral de Justiça conta que visita o irmão com frequência e que, inclusive, esteve com ele há alguns dias, em Brasília. Benedito Torres diz que, apesar de lamentar o episódio, não haverá rompimento da relação. “Como irmão, não posso deixá-lo. Até porque é uma questão de humanidade”, justifica.

O ex-procurador-geral do estado Ronald Bicca, que pediu demissão do cargo após tomar conhecimento do conteúdo das gravações a que o Correio teve acesso, disse ontem que conhece o bicheiro Carlinhos Cachoeira, com quem manteve “contatos sociais”. Bicca nega ter recebido algum pedido de ingerência no governo de Goiás e assegura que sua indicação não foi feita pelo senador ou por Benedito Torres, como revelam os diálogos entre Cachoeira e Demóstenes.

Segundo Bicca, seu afastamento já estava previsto e foi antecipado pelo envolvimento nas conversas. Ele é citado como uma pessoa sobre quem o bicheiro e o senador tinham influência. “Em razão disso, antecipei minha saída para me dedicar aos meus projetos”, disse. “Infelizmente, o período previsto para o afastamento coincidiu com a divulgação da operação Monte Carlo da Polícia Federal”.

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