Ao menos 25 candidatos que tiveram nomes investigados ou citados na operação devem conquistar cadeira ou se reeleger. Grupo inclui rostos conhecidos de escândalos, como Renan Calheiros, Edison Lobão e Jader Barbalho.
Jean-Philip Struck | Deutsch Welle
Após quatro anos de atuação, a Lava Jato parece não ter afetado de maneira decisiva, entre os eleitores, a influência de vários políticos envolvidos na operação. Na corrida para o Senado, ao menos 25 candidatos citados, investigados, denunciados ou se tornaram réus na operação aparecem como favoritos.
O Senado brasileiro, em sessão presidida por Renan Calheiros, que deve se reeleger |
Deles, 14 são senadores que tentam a reeleição. Outros 11 nomes, entre eles deputados federais, ex-governadores e uma ex-presidente da República (Dilma Rousseff) tentam conquistar uma das 54 vagas em disputa na Casa. Nos últimos levantamentos, eles lideram as sondagens ou estão tecnicamente empatados na disputa pela segunda vaga em seus estados.
Entre os nomes da Lava Jato que apareceram na liderança nas últimas pesquisas está Renan Calheiros (MDB-AL), que é alvo de mais de uma dezena de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). No último levantamento realizado em Alagoas, ele aparecia com vaga garantida com 39% das intenções de voto, em uma disputa que conta com apenas dois candidatos competitivos.
Outros candidatos à reeleição que estão na mira da Lava Jato e devem conquistar mais um mandato incluem Edison Lobão (MDB-MA), Jader Barbalho (MDB-PA), Humberto Costa (PT-PE), Jorge Viana (PT-AC), Valdir Raupp (MDB-RO) e Ciro Nogueira (PP-PI). O último é presidente do PP, um dos partidos mais envolvidos na operação. Todos aparecem com mais de 25% de intenções de voto.
Na Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que foi citado na delação da Odebrecht como destinatário de 800 mil reais em caixa 2 e que já teve em 2009 o mandato de governador cassado, lidera com 40%. Na planilha de pagamentos da empresa, seu apelido era "Prosador".
O senador catarinense Paulo Bauer (PSDB), que tenta a reeleição e aparece com 25% das intenções de voto, empatado no segundo lugar, se tornou alvo em maio de um inquérito de um desdobramento da Lava Jato. No Espírito Santo, Ricardo Ferraço (PSDB), o "Duro" na planilha da Odebrecht, e que até junho respondia a um inquérito no Supremo, tem 40% das intenções de voto.
Já no Ceará, o atual presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB), chamado de "Índio" na planilha, tem 39% das intenções de voto, bem à frente do terceiro colocado. Ele é alvo de dois inquéritos no Supremo e foi citado por um delator como destinatário de 2 milhões de reais.
No Amazonas, três envolvidos na Lava Jato disputam as duas vagas. O senador Eduardo Braga (MDB), que concorre à reeleição e também foi citado na delação da Odebrecht, lidera com 40%. O deputado federal e ex-ministro Alfredo Nascimento (PR), também citado em delação e que se notabilizou em 2011 após deixar a pasta dos Transportes por suspeita de corrupção, está empatado em segundo lugar com a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), alvo de um inquérito.
Pelo menos três deputados federais citados na Lava Jato estão mirando mais alto nestas eleições ao se lançarem ao Senado e aparecem bem posicionados nas pesquisas. Além de Nascimento, estão nesta situação Jarbas Vasconcelos (MDB-PE) e Zeca do PT (MS). Vasconcelos chegou a ser alvo de um inquérito, mas a PGR pediu o arquivamento alegando que os crimes prescreveram. Ele aparece com 33% das intenções de voto em Pernambuco. Zeca, que também teve um inquérito arquivado, lidera a disputa em Mato Grosso do Sul.
Já entre os políticos sem mandato que têm chances de garantir uma vaga e que não viram seu desempenho eleitoral ser arranhado pela operação incluem a ex-presidente Dilma Rousseff – favorita em Minas Gerais –, os ex-governadores Raimundo Colombo (PSD-SC), Cid Gomes (PDT-CE), Jaques Wagner (PT-BA) e Marconi Perillo (PSDB-GO).
Dilma foi alvo de duas denúncias pela PGR, que incluem acusações de organização criminosa (caso Petrobras) e obstrução de Justiça (a nomeação de Lula como ministro). Marconi Perillo foi recentemente alvo de uma operação da Polícia Federal e é réu em um caso de corrupção passiva por causa da sua associação com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Colombo também é réu na Justiça Eleitoral por suspeita de caixa 2 que teria sido pago pela Odebrecht. Cid Gomes, por sua vez, foi citado na delação dos irmãos Batista, da JBS. Já Wagner foi alvo em fevereiro de uma operação da PF e acabou indiciado por suspeita de envolvimento no superfaturamento de obras da Copa de 2014.
Todos aparecem na liderança em seus estados ou empatados em primeiro lugar nas últimas pesquisas disponíveis.
No Paraná, o ex-governador Beto Richa (PSDB), investigado na Lava Jato e que foi preso no início de setembro em uma operação local não relacionada à operação, perdeu 11 pontos percentuais das suas intenções de voto na última pesquisa disponível, mas ainda permaneceu em segundo lugar na disputa, com 17%, ainda com chances de conquistar uma cadeira.
Entre os atuais senadores envolvidos na Lava Jato, apenas alguns poucos perderam parte do seu apelo junto ao eleitorado. Romero Jucá (MDB-RR), que se notabilizou por ter sido gravado discutindo um pacto para deter a operação e que é réu no Supremo, vem enfrentando dificuldades para conquistar mais um mandato. Ele aparece embolado com quatro outros candidatos.
O mesmo ocorre com Garibaldi Alves (MDB-RN), alvo de uma denúncia da PGR por corrupção e lavagem de dinheiro que está em terceiro na disputa em seu estado. Em Alagoas, o senador Benedito de Lira (PP), que já foi denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro, também amarga o terceiro lugar.
Outros quatro senadores que foram afetados pela operação decidiram neste ano "rebaixar" suas pretensões, desistindo de concorrer à reeleição e se lançando para uma vaga na Câmara. Entre eles estão Aécio Neves (PSDB-MG), que chegou a ser afastado do cargo por ordem do Supremo em 2017, mas acabou sendo salvo em uma votação no Senado; a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), que foi absolvida em junho pelo Supremo de acusações de corrupção e lavagem de dinheiro; e José Agripino Maia (RN), réu em duas ações por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro.
Na liderança em seu estados ainda há candidatos que, embora não tenham sido envolvidos na Lava Jato, apareceram em outros escândalos. Na Paraíba, onde Cássio Cunha Lima lidera, o segundo colocado é o deputado Veneziano Vital do Rêgo (PSB), que foi denunciado em maio pela PGR por suspeita de desvio de verbas de um banco de alimentos. O senador paraense Flexa Ribeiro (PSDB), que tenta a reeleição e aparece em segundo lugar na disputa, já foi preso pela PF em 2004 por suspeita de fraude em licitações.
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