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Doadoras do PT eram laranjas, diz auditoria

Advogado de envolvidos disse, na semana passada, que as acusações serão derrubadas; ontem ele não foi encontrado

Auditoria, pedida pela Mude, maior distribuidora da Cisco, constata que as 2 empresas que doaram participavam de esquema de fraude fiscal


JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Auditoria realizada por um escritório de advocacia aponta que duas empresas que doaram R$ 500 mil ao PT neste ano integravam um esquema de fraude e crimes fiscais criado pela Mude para beneficiar a Cisco com importações fraudulentas.

A Mude é a maior distribuidora de produtos da Cisco no Brasil. Já a Cisco é uma das maiores empresas mundiais de redes para computadores. Segundo a PF, a Cisco usou empresas de laranjas para doar R$ 500 mil ao PT. O dinheiro teria sido doado para que a Caixa Econômica Federal beneficiasse a Damovo, integradora que usa produtos Cisco, em licitação de R$ 9,9 milhões. A Caixa e a Damovo negam.

A auditoria cita as duas empresas, Nacional Distribuidora e a ABC Industrial, que fizeram a doação ao PT, como integrantes do suposto esquema.

A auditoria foi juntada ao inquérito que está com o Ministério Público Federal. O inquérito da PF, que sustentou a Operação Persona, diz que a Cisco controlava uma rede de empresas no Brasil e nos Estados Unidos para importar equipamentos com o valor subfaturado.

A auditoria confirma alguns pontos da investigação. "As importações de determinados produtos fabricados pela Cisco Systems e revendidos no mercado brasileiro por essa sociedade [Mude] são realizadas pela empresa Brastec, Waytec e ABC, que vendem as mercadorias à Tecnosul e à Nacional, que, por sua vez, os revendem a essa sociedade", diz o texto.

Outro trecho da auditoria aponta: "A utilização dos distribuidores Tecnosul [outra empresa acusada de fraudes] e Nacional (...) procura resguardar essa sociedade [Mude] da aplicação, pela fiscalização do Estado de São Paulo", diz .

Encomenda

A auditoria foi encomendada pelo advogado José Roberto Pernomiam Rodrigues, denunciado por envolvimento no esquema, ao escritório Mesquita Neto Advogados, de São Paulo. Rodrigues seria um dos mentores intelectuais do esquema.

A auditoria alerta que a Mude poderia ser autuada pela Receita e pela Secretaria da Fazenda de São Paulo.

Um dado que chamou a atenção dos policiais é o valor de autuação que a empresa poderia sofrer. Segundo cálculos do escritório, a multa poderia ser de R$ 1,117 bilhão, próximo do montante que havia sido estimado pela Polícia Federal (R$ 1,5 bilhão).

A auditoria, de acordo com os policiais, praticamente antecipa o resultado das investigações da Operação Persona, ainda em curso, e é considerada uma das provas mais contundentes do inquérito.

A Folha não conseguiu localizar ontem o advogado Antonio Ruiz Filho, que defende dois diretores da Mude acusados na Operação Persona - José Roberto Pernomian Rodrigues e Marcelo Naoki Ikeda. Na semana passada, Ruiz Filho disse que as acusações contra seus clientes serão derrubadas no decorrer do processo.

Segundo ele, a legislação sobre importação se tornou extremamente complexa e a Receita e a PF cometeram uma série de interpretações equivocadas no decorrer das investigações. "Quando esses equívocos forem desfeitos, ficará provado que os diretores da Mude não cometeram nenhuma fraude", disse Ruiz Filho.

O advogado Paulo Iasz de Morais, que defende Hélio Benetti Pedreira, diz que seu cliente estava afastado da direção da Mude havia dois anos quando foi deflagrada a Operação Persona. "Como meu cliente não acompanhava o dia-a-dia da empresa, ele ficou surpreso com as acusações da Polícia Federal".
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