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Ligações perigosas no poder

Ex-chefe de polícia, Álvaro Lins é preso acusado pelo MPF de chefiar quadrilha que inclui Garotinho



Renata Victal

O deputado estadual e ex-chefe de Polícia Civil Álvaro Lins (PMDB) foi preso ontem de manhã na sua casa, na Rua Cinco de Julho, em Copacabana. Ele e outras 15 pessoas, incluindo o exgovernador Anthony Garotinho, são acusados de pertencerem a uma organização criminosa que usou a estrutura da Polícia Civil para lavagem de dinheiro, facilitação de contrabando e corrupção. A denúncia, oferecida pelo Ministério Público Federal ao Tribunal Regional Federal da 2ª Região, pede a prisão de outros seis policiais, entre eles Ricardo Hallack, que substituiu Lins na chefia de polícia. Lins pode ser solto hoje.

Como ele é parlamentar e tem foro privilegiado, conforme determina a Constituição Federal, a decisão de manter Lins preso ou solto caberá a seus pares na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, onde o PMDB possui a maioria. Ontem, os deputados que compõem a Mesa Diretora reuniram-se com o procurador-geral da Alerj, Marcelo Cerqueira. Hoje, decidem se mantêm a prisão ou se enviam os autos à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O decreto legislativo determinando a revogação da prisão será submetido à votação em plenário. Para aprová-lo, são necessários ao menos 36 votos.

Ontem pela manhã, o governador Sérgio Cabral, do mesmo partido de Lins, foi lacônico: – Prefiro não emitir opinião. A Secretaria de Segurança está acompanhando o caso.

A prisão do deputado estadual só foi possível porque a PF identificou flagrante referente aos crimes de lavagem de dinheiro, que é considerado flagrante permanente e inafiançável.

Lista de réus pode aumentar

A operação, batizada de Segurança Pública S/A, realizou busca em 15 endereços. Foram apreendidos computadores, documentos que podem levar a engrossar a lista de réus.

Segundo os procuradores Maurício da Rocha Ribeiro, Cristina Schwansee Romanó e Paulo Fernando Corrêa, o deputado Álvaro Lins dos Santos comandava um esquema de extorsão na delegacia do Meio Ambiente.

Entre 2000 e começo de 2007, os delegados que por ali passaram tiveram de contribuir com R$ 25 mil por mês. O dinheiro era extorquido de empresários em operações como fiscalizações sanitárias.

– O delegado que não concordava era transferido para outra delegacia. Temos provas de que Lins e Hallack pediam dinheiro. Eles cooptavam os delegados. Quem não entrava no esquema era transferido para outro setor.

A operação de ontem é um desmembramento das operações Gladiador e Hurricane, desencadeadas há pouco mais de um ano e que quebraram o sigilo fiscal de Álvaro Lins. A quadrilha era responsável pelos crimes de facilitação de contrabando, por não reprimir a atividade de exploração de máquinas caça-níqueis pelo grupo criminoso de Rogério Andrade, e de corrupção ativa e passiva, relacionados diretamente com as atividades de Delegacias de Polícia estratégicas, notadamente a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente.

– O Álvaro Lins facilitava a entrada, de forma ilegal, de equipamentos para máquinas de vídeopôquer.

Não apuramos nenhum caso de assassinato, mas temos ameaças – contou Corrêa.

O procurador explicou ainda que, caso os outros deputados decidam absolver Lins, ele continuará sendo julgado, mas apenas pelos crimes que cometeu antes de ser diplomado.

Também foram presos os policiais civis Alcides Campos Sodré Ferreira, Fábio Menezes de Leão, Jorge Luiz Fernandes, Luiz Carlos dos Santos e Mário Franklin Leite Mustrange de Carvalho. Já o policial Helio Machado da Conceição continua solto.

Salário de R$ 7 mil, gastos de R$ 30 mil

De acordo com a investigação, o deputado Álvaro Lins se valeu de familiares e outras pessoas para ocultar a origem do patrimônio obtido criminosamente. Esse grupo é formado por seis dos denunciados: Sissy Toledo de Macedo Bullos Lins, Vanda de Oliveira Bullos, Amaelia Lins dos Santos, Maria Canali Bullus e Luciana Gouveia dos Santos (ex-mulher de Lins), e Francis Bullos (vereador em Barra Mansa). Os dois últimos também foram presos, mas os procuradores acreditam que deverão ser soltos.

– Eles foram presos em flagrante, mas não há necessidade de ficarem presos por muito tempo – acredita o procurador Maurício Ribeiro.

Além de oferecer a denúncia, que está sob sigilo de Justiça, o MPF obteve o seqüestro dos bens ocultados por Álvaro Lins.

– A evolução patrimonial do Álvaro Lins é totalmente incompatível com seus ganhos – avaliou Corrêa. – Temos provas de que os gastos pessoais dele eram da ordem de R$ 25 mil a R$ 30 mil, mas como policial civil ele recebia um salário de R$ 4 mil e, como chefe de polícia, de R$ 7 mil. Não tinha renda para justificar o patrimônio que conseguiu e usou laranjas.

Marina Maggesi investigada

Os procuradores também enviaram à Procuradoria-Geral da República pedido para que a deputada federal Marina Magessi (PPS/RJ) seja investigada. Segundo relatório da PF, dois policiais ligados a ela teriam intermediado doações de pessoas próximas ao bicheiro Capitão Guimarães para a sua campanha.

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