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Pesquisa: Brasileiros não acreditam mais nos políticos e nem mais na democracia

"O modelo da democracia representativa não está sendo questionado só no Brasil como no resto do mundo." A análise é de Mauri Cruz, membro da diretoria executiva da Associação Brasileira das Entidades Não-Governmantais (Abong) que, em entrevista exclusiva à Sputink Brasil, comentou a última pesquisa do Insituto Ipsos sobre política brasileira.


Sputnik

O levantamento apontou que só 6% das 1.200 pessoas entrevistadas, entre 1º e 14 de juho, acreditam que se sentem representadas pelos políticos nos quais já votaram. E pior: hoje apenas 50% defendem o regime democrático. A enquete, feita em 72 municípios, traz ainda outros números preocupantes: 74% são contra o voto obrigatório; 81% afirmam que o problema do Brasil não são os partidos, mas o sistema político; e que a corrupção é um entrave para que o país alcance um nível avançado de desenvolvimento; e que apenas 15% consideram que a lei é igual para todos.


Pesquisa da Ipsos revela que só 6% da população se sentem representados pelos políticos
Marcello Casal/Agência Brasil/Fotos Públicas

Cruz diz que esse questionamento mundial sobre a democracia representativa repousa em duas questões básicas. A primeira é a própria ideia de participar de processos democráticos, em que a eleição de um representante delega para ele todas as responsabilidades. A segunda, e talvez a mais importante segundo ele, é o sequestro dos processos democráticos pelo poder econômico.

O especialista cita o exemplo o caso recente da Grécia, onde consulta popular determinou que o governo não deveria ceder às exigências dos credores internacionais para liberar financiamentos que evitassem a bancarrota do país. Mesmo assim, pressões do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional, Banco Cental Europeu, entre outros, fizeram o governo ignorar os resultados do plebiscito que ele mesmo organizou.

"Isso a gente vê no dia-a-dia da política brasileira. As pessoas estão vivenciando um modelo de democracia que não está sendo efetiva do ponto de vista da garantia da conquista de direitos. A Abong representa um grande número de ONGs em todo o território nacional e vê que essa descrença com a política é palpável. Essa descrença é perigosa porque abre portas e janelas para alternativas autoritárias, salvadores da pátria, visões totalitárias e que serão piores que uma democracia perneta. Essa pesquisa aumenta o sinal de alerta para os políticos brasileiros. A gente tem que reinventar a forma da democracia, onde a cidadania seja chamada para tomada de decisões concretas. A prática de uma democracia verdadeira vai reacender a esperança das pessoas", diz Cruz.

No bojo da tão discutida reforma política, o membro da Abong afirma que a proposta do Distritão é um retrocesso, porque não altera o peso do poder econômico no Congresso, diz Cruz, lembrando que em Porto Alegre o prefeito Nélson Marchezan Jr. (PSDB), é um exemplo dessa nova geração de políticos, jovens, empreendedores e que adotam o discurso do livre mercado para fazer política.

"A gente vê como é falacioso esse discurso. O capitalismo brasileiro não é um capitalismo de concorrência, só existe porque é sustentado por políticas públicas, é um capitalismo sem risco. O risco é inerente à ideia do capital, do investidor. O capitalismo brasileiro é o capitalismo do risco zero. Aí esses pseudo-empresários de sucesso querem apresentar que seu modelo de gestão é o modelo eficaz. Na verdade, é um balcão de negócios para os interesses de seus segmentos", dispara Cruz. "Todo esse discurso de déficit fiscal é porque eles querem enxugar a máquina e sobrar recursos para fazerem as políticas de seu interesse. A pessoa se apresenta como empresário e não como político. Como se o empresário que concorre a uma eleição não fosse um político", finaliza o membro da diretoria executiva da Abong.


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